Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tem monopolizado a democracia para justificar a tirania. Após a busca e apreensão na casa dos envolvidos no incidente com o ministro Alexandre de Moraes, no aeroporto internacional de Roma vem se confirmando uma tendência que insinuava em decisões judiciais recentes; conforme a interpretação da Corte, os magistrados personificam a democracia e o Estado Democrático de Direito. Ou seja, a partir de agora, membros do o Supremo que estejam andando na rua são "democracias ambulantes" – quem ofendê-los estará emitindo ofensas ao próprio regime democrático, segundo a nova interpretação.
Para o deputado Federal Carlos Jordy (PL/RJ), qualquer um que discorde deles ou conteste suas decisões é taxado de antidemocrático, um criminoso da pior espécie. "O que esta acontecendo no Brasil é típico de ditaduras convencionais. A única diferença do Brasil para a Nicarágua e Venezuela é que nossa ditadura tem verniz de legitimidade: sob pretexto de defender a democracia, avançam destruindo a democracia", afirma o deputado federal.
Os ministros começaram a construir a autoimagem de personificações da democracia em março de 2019, quando uma leitura elástica do regimento interno do STF tornou-se pretexto para a abertura do inquerito das fakes news – classificado pelo ex-ministro Marco Aurélio Mello como "inquérito do fim do mundo" – e a investigação, preparada pelo próprio STF, contra pessoas que supostamente teriam atentado contra a honra dos ministros.
A justificativa para a abertura do inquérito se baseou no já famoso artigo 43 do regimento interno do STF, que diz: Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro.
Em uma esperteza na interpretação dessa norma, alguns tipos de críticas à Corte e a seus membros via redes sociais passaram a equivaler a infringir a lei "na sede ou dependência do tribunal", o que justificaria a abertura de inquéritos pelo próprio STF e, entre outras coisas, a censura dos autores dessas críticas.
E após a abertura desses inqueritos, praticamente todo tipo de ofensa ao Supremo e aos magistrados passou a caber dentro deles. De acordo com essa interpretação, os ministros passaram a personificar a sede da Corte, e ofendê-los seria o mesmo que atacar as dependências do tribunal.