Polícia Mortes
Feminicídios em Campo Grande chocam pela crueldade e pela ausência de registros prévios na polícia
O destaque é a gravidade e a brutalidade desses crimes
23/03/2024 11h36
Por: Tatiana Lemes
Foto: Reprodução

Campo Grande testemunhou dois casos de feminicídio cruéis na noite desta sexta-feira (22). As vítimas, Daiane Xavier da Silva, de 38 anos, e Renata Andrades de Campos Widal, de 39 anos, foram brutalmente assassinadas por seus respectivos marido e irmão. Ambos os casos foram registrados pela DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).

Durante coletiva de imprensa realizada na manhã deste sábado (23), a delegada Rafaela Lobato destacou a extrema crueldade dos crimes. No caso do feminicídio de Renata Widal, seu irmão a agrediu com socos, desfigurou seu rosto a pedradas e tentou decapitá-la com uma foice. "Foi um caso muito atípico. São irmãos da mesma mãe e pai. Casos como esse não são comuns", comentou a delegada.

Os irmãos haviam discutido momentos antes do trágico incidente, no entanto, o autor, que posteriormente confessou o crime após suspeitas levantadas pelos policiais em relação à sua versão inicial, não revelou o que desencadeou o conflito. Inicialmente, ele tentou desviar a responsabilidade ao afirmar aos policiais que quatro homens haviam invadido a casa e assassinado Renata.

Após o crime, o homem tomou medidas para ocultar os vestígios, como tomar banho e trocar de roupa, e permaneceu na residência. Segundo a delegada Rafaela Lobato, foi a mãe tanto do autor quanto da vítima, que vive em uma casa adjacente com outra filha, que chamou a atenção das autoridades. Ela não estava em casa no momento do ocorrido, e vizinhos notaram comportamentos suspeitos no ambiente. Ao retornar, deparou-se com o corpo da filha.

Segundo a delegada, o irmão não demonstrou qualquer sinal de arrependimento pelo crime. Durante seu depoimento à polícia, ele alegou ter passado por um "surto" psiquiátrico, algo que já teria experimentado anteriormente. "Em resumo, ele tentou insinuar que estava em um estado de surto. Embora não tenha utilizado essas palavras exatas, essa foi a ideia que ele tentou transmitir. Na minha avaliação, ele estava plenamente consciente de seus atos, uma vez que tomou banho, saiu da residência e elaborou uma narrativa estratégica para evitar a captura. Portanto, do meu ponto de vista, essa explicação não justifica seus atos", comentou Rafaela Lobato.

No segundo caso, o autor, Tiago Echeverria Ribeiro, de 38 anos, era o marido de Daiane Xavier da Silva. Segundo relatado pela delegada Rafaela Lobato, o casal havia consumido bebidas alcoólicas em uma conveniência. Há também informações de que Tiago estivesse sob efeito de substâncias entorpecentes. Mais tarde, eles retornaram para casa, onde viviam com uma amiga, no Bairro Nova Campo Grande.

Antes de cometer o assassinato, Tiago agrediu sexualmente a esposa, que repreendeu sua conduta e o atingiu com um tapa no rosto. Isso desencadeou uma discussão entre os dois, durante a qual Tiago ameaçou matar Daiane. Ela duvidou das ameaças, momento em que Tiago foi até a cozinha, pegou uma faca e desferiu um golpe na coxa de Daiane, próximo à virilha.

A delegada da DEAM esclareceu que essa informação foi fornecida por testemunhas e que a perícia ainda está investigando a região exata onde a facada foi desferida. Quando questionada se a proximidade do golpe com a virilha poderia estar relacionada ao assédio, Rafaela Lobato afirmou que "é possível, mas reforço que ainda não sabemos com certeza a região... pela quantidade de sangue presente no local, é provável que tenha sido na região, pois é uma área com grande fluxo sanguíneo".

Após o ataque, Daiane conseguiu correr até uma vizinha e pedir ajuda. A delegada explicou que há apenas um registro anterior de violência doméstica contra o autor, mas alguns vizinhos relataram que o casal costumava discutir com frequência.

Daiane foi levada para a Santa Casa, onde permaneceu por cerca de 2 a 3 horas antes de falecer. O casal tem três filhos juntos, que estão sob os cuidados de uma tia da vítima. A Defensoria Pública já foi acionada para determinar o futuro das crianças.

Denuncie

A delegada da DEAM reitera a importância de as vítimas denunciarem casos de violência doméstica antes que a situação evolua para um feminicídio. "Nesses dois casos que tivemos, nunca foi relatada qualquer situação de violência à Polícia Civil. No segundo caso, houve um registro há três anos, mas não havia medida protetiva em vigor. Portanto, o que tentamos transmitir à sociedade é a necessidade de denunciar, para que possamos intervir de forma preventiva", explicou.

Segundo Rafaela Lobato, muitas tragédias poderiam ser evitadas se as vítimas fossem suficientemente encorajadas a denunciar. A delegada ressalta que mais de 90% dos casos de feminicídio ocorrem com vítimas que não relataram violência prévia.

Vítimas de violência doméstica ou testemunhas podem denunciar anonimamente. Tanto as mulheres quanto seus familiares diretamente envolvidos na situação de violência recebem assistência especializada.

Em situações de emergência, o número a ser discado é o 190. Para denúncias ou orientações sobre direitos e serviços públicos, pode-se ligar gratuitamente para o número 180. Boletins de ocorrência podem ser registrados na DEAM ou nas DAMs (Delegacias de Atendimento à Mulher) do interior.

Receba as principais notícias do Brasil pelo WhatsApp. Clique aqui para entrar na lista VIP do WK Notícias. 

*Com informações Midiamax