Ao concluir seu segundo mandato presidencial em 2010, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desfrutava de uma popularidade recorde, impulsionado por um crescimento econômico de 7,5% e um Congresso praticamente sob seu controle. Naquele período, o governo tinha liberdade para liberar emendas parlamentares conforme sua vontade, distribuindo recursos para os redutos eleitorais dos deputados e senadores que apoiavam o Palácio do Planalto.
Nos últimos anos, no entanto, o cenário mudou drasticamente. As emendas individuais e de bancada tornaram-se impositivas, ou seja, de pagamento obrigatório, e o orçamento disponível para os congressistas aumentou significativamente, alcançando cerca de 50 bilhões de reais este ano. Dessa forma, Lula perdeu um importante instrumento de cooptação, enquanto os parlamentares ganharam uma fonte bilionária para agradar aos eleitores, independentemente do apoio ao governo.
Diante dessa nova realidade, Lula, que criticou na campanha de 2022 a submissão de Jair Bolsonaro ao Centrão, optou por não enfrentar os parlamentares quanto às emendas. Para aprovar projetos prioritários e evitar derrotas, como a da MP do PIS/Cofins, o presidente tem liberado os recursos indicados pelos deputados e senadores com rapidez. Até o final de junho, estavam previstos 4 bilhões de reais de um total de 8 bilhões de reais em “emendas Pix”, destinadas a prefeituras que podem gastar os recursos como preferirem. Essa ação visa fortalecer os congressistas nas eleições municipais, permitindo que mostrem resultados aos eleitores.
Embora a distribuição de emendas beneficie os políticos envolvidos, nem sempre resulta em projetos prioritários ou atende às áreas mais necessitadas. Muitas vezes, interesses eleitorais e políticos determinam a alocação dos recursos. Um exemplo é o deputado Elmar Nascimento, que destinou 21,83 milhões de reais em “emendas Pix” entre 2022 e 2023, sendo a maior parte para Campo Formoso (BA), onde seu irmão é prefeito.
Casos semelhantes envolvem o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que direcionou cerca de 19 milhões de reais em “emendas Pix” para municípios do Maranhão, incluindo Vitorino Freire, governada por sua irmã. André Fufuca, ministro do Esporte, também destinou significativos recursos para sua terra natal, Alto Alegre do Pindaré. O deputado Hugo Motta enviou 20 milhões de reais para a Paraíba, beneficiando principalmente Patos, onde seu pai é prefeito.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, e seus aliados têm destinado grandes somas a seus municípios, muitas vezes via orçamento secreto. Enquanto isso, o governo Lula tenta equilibrar as contas públicas e reduzir o gasto, enfrentando resistência dos parlamentares. Mesmo com os esforços dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, o desafio permanece.
Lula continua a liberar recursos parlamentares para manter o apoio no Congresso, mas enfrenta uma situação política e fiscal complexa. O equilíbrio entre agradar aos congressistas e manter as contas públicas em ordem será um desafio contínuo em seu terceiro mandato.
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*Com informações Veja