O relatório elaborado pelo subgrupo de óleo e gás da transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, apresentado na semana passada, propõe a criação, em 60 dias, de um plano de expansão do refino nacional.
A iniciativa ficaria sob a batuta do Ministério de Minas e Energia (MME) e da Petrobras, mas contaria também com o Ministério da Indústria e Comércio (MDIC) e o BNDES. Ao todo, o documento traz quatro propostas para o setor com prazos de realização, parte delas implicando diretamente a Petrobras, em entrevista ao Estadão.
A lista das propostas de revisão do plano nos primeiros 60 dias de governo, são:
O grupo de transição recomenda endereçar a questão ainda no primeiro trimestre de 2023 e cita projeto de lei sobre o tema, o PL 1472/2021.
Expansão do Refino
Sobre a expansão da capacidade de refino, o objetivo é “atender os principais mercados deficitários do país em termos de derivados de petróleo”.
O documento não chega a especificar os termos do plano, mas os membros da transição defendem a ampliação e modernização de refinarias existentes da Petrobras, o chamado “revamp” de unidades.
O processo começaria pelas refinarias Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão (SP), e a Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná. Além disso, há recomendação de construção do segundo trem da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, que conclui seu projeto original.
O coordenador do grupo de Minas e Energia da Transição, professor Maurício Tolmasquim, já tinha falado publicamente que o foco inicial seria expandir unidades e não construir novas refinarias, mas não chegou a revelar quais tendem a ser os alvos do novo governo.
Questionado, o coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rodrigo Leão, que redigiu o documento, não entrou em detalhes, mas informou que só a expansão pontual do refino não resolve o problema no médio prazo.
"Somente com movimentos pontuais, em quatro anos teremos um déficit entre 500 mil e 600 mil barris de derivados por dia, principalmente de diesel" – alertou.
Ele diz ainda que qualquer expansão por meio de novas unidades requer planejamento - 'Seria preciso começar agora para ficar pronto daqui a cinco anos" – apontou.
Plano Estratégico da Petrobras
A recomendação da construção do segundo trem da Rnest já está nos planos da Petrobras, com previsão no plano estratégico até 2027, divulgado no fim de novembro.
A diretoria atual planejou 10,8 bilhões de dólares para investimentos em refino nos próximos cinco anos, o que não contempla gasodutos, incluídos na carteira de exploração e produção. O plano lista uma série de adaptações em refinarias, como a própria RPBC, a maior parte com vistas ao incremento dos biocombustíveis de última geração, como o Diesel RX e o BioQAV.
O plano, no entanto, pode ser revisto até o início de março, conforme recomendado pela transição. Esse prazo é pouco factível, porque só os trâmites para a troca da alta administração e da presidência da empresa devem consumí-lo.
O documento cita revisão pelo novo Conselho de Administração, “visando incorporar ações que permitam implementar as políticas públicas sugeridas no programa de governo”.
Não há diretrizes para o novo plano, mas, ante posições públicas de membros da transição, como Jean-Paul Prates, e do novo governo, o mercado espera aumento do volume total de investimentos para o período, hoje fixado em 78 bilhões de dólares, com reforço significativo das frentes de refino, biocombustíveis e, também, para fazer frente à entrada no segmento de energias renováveis, sobretudo eólica offshore.