Política Enganação
PT lança série de vídeos para atrair evangélicos, mas fiéis desconfiam de manobra política
Fundação Perseu Abramo tenta reaproximar partido de público religioso em meio à rejeição e críticas de oportunismo
24/09/2024 02h21 Atualizada há 11 meses
Por: Tatiana Lemes
Foto: Reprodução

A Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), divulgou uma série de vídeos que visa reaproximar o partido do público evangélico. A iniciativa é parte de uma estratégia eleitoral, especialmente relevante para as eleições municipais deste ano, e tenta criar pontes entre valores cristãos e as bandeiras do partido. No entanto, a ação já enfrenta críticas severas, com muitos questionando as verdadeiras intenções do PT ao tentar conquistar esse eleitorado, que tem se afastado cada vez mais nos últimos anos.

Os vídeos apresentam depoimentos de oito membros e apoiadores do PT que também são cristãos evangélicos, incluindo figuras conhecidas como o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, e a deputada federal Benedita da Silva (RJ). Entre os outros entrevistados estão o pastor Oliver Goiano, da Igreja Batista da Lagoa, em Maricá (RJ), o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Alexandre Brasil, e o sociólogo e ex-prefeito de Carapicuíba (SP), Sergio Ribeiro.

Durante os depoimentos, os participantes leem trechos da Bíblia e discutem as semelhanças entre a fé evangélica e as pautas progressistas do PT. No entanto, a tentativa de alinhar o discurso religioso ao ideário petista soa, para muitos, como um movimento estratégico e oportunista. A rejeição dos evangélicos ao PT tem sido evidente, com a ascensão de lideranças religiosas que se opõem fortemente ao partido e suas pautas.

Ação ou estratégia eleitoral?

Essa série de vídeos não é uma ação isolada. Ela faz parte de uma iniciativa maior, alinhada à "Cartilha Evangélica – Diálogo nas Eleições", criada para orientar candidatos do PT em suas abordagens ao público evangélico durante as eleições municipais. A cartilha tenta fornecer argumentos que facilitem a comunicação com essa parcela do eleitorado, que historicamente tem sido cética em relação às pautas progressistas defendidas pelo partido.

Em seu depoimento, Jorge Messias mencionou o impacto das fake news sobre a imagem do PT no meio evangélico, destacando que muitas das críticas feitas ao partido se baseiam em informações falsas. Messias também comentou sobre a Lei de Liberdade Religiosa, sancionada por Lula, e desmentiu boatos recorrentes sobre o fechamento de igrejas, uma das acusações mais comuns contra o governo petista.

Entretanto, a desconfiança permanece. Muitos evangélicos veem as ações do PT como tentativas desesperadas de recuperar um apoio que foi perdido ao longo dos anos, principalmente em decorrência do fortalecimento de outros movimentos políticos que têm maior apelo junto a líderes religiosos. O pastor Oliver Goiano, um dos entrevistados, tenta rebater essas críticas ao afirmar que a fé e a política não são incompatíveis, mas os argumentos não parecem convencer os mais críticos.

Críticas à tentativa de reconquista

A rejeição ao PT no meio evangélico não é novidade, mas a tentativa de reconquista desse público em ano eleitoral levanta suspeitas de oportunismo político. Líderes de outras denominações evangélicas já se manifestaram contra a iniciativa, afirmando que a tentativa de associação entre a fé e o partido é uma "instrumentalização religiosa" para fins eleitorais. Para esses críticos, o PT estaria manipulando elementos religiosos para angariar votos em um segmento que já se consolidou como oposição ao partido.

Além disso, a tentativa de suavizar a imagem do PT entre os evangélicos esbarra nas pautas progressistas defendidas pelo partido, como a defesa dos direitos LGBTQIA+, o aborto e questões relacionadas à ideologia de gênero – temas que, historicamente, geram resistência entre os fiéis.

Para muitos analistas políticos, essa estratégia de comunicação pode até gerar impacto em alguns setores mais moderados do eleitorado evangélico, mas dificilmente será suficiente para reverter a rejeição crescente ao partido nesse segmento. A série de vídeos da Fundação Perseu Abramo, apesar de elaborada e recheada de depoimentos de figuras relevantes, corre o risco de ser vista mais como uma jogada política do que como uma real tentativa de diálogo com o público religioso.

No fim das contas, a pergunta que fica é: será que essa investida do PT terá o efeito desejado ou apenas reforçará a desconfiança que já paira sobre o partido entre os evangélicos? As eleições municipais deste ano serão um teste decisivo para essa estratégia, e o resultado poderá indicar o futuro dessa relação entre fé e política.

Receba as principais notícias do Brasil pelo WhatsApp. Clique aqui para entrar na lista VIP do WK Notícias. 

*Com informações Folha S.Paulo