Política Controle
Lula, a austeridade eleitoral e o risco de um colapso econômico
A tentativa de controlar a economia por meio de medidas eleitoreiras reflete uma visão distorcida que pode colocar em risco a confiança e a estabilidade fiscal conquistada com tanto esforço
02/12/2024 11h31
Por: Tatiana Lemes
Foto: Reprodução

Luiz Inácio Lula da Silva parece ser um político que confia cegamente em sua própria intuição, e é dessa confiança que ele parece ter se valido para criar suas novas medidas de contenção de gastos. Essa abordagem, voltada para as eleições, pressupõe que, com o tempo, tudo se ajuste na economia, desde que o mercado "entenda o design" e se submeta às suas motivações. Quando Lula foi eleito pela primeira vez, ainda em 2002, percebemos rapidamente que o país não seria governado com base na premissa de que "gasto é vida". Ele então transmitiu as soluções de economia a Antonio Palocci, confiando nas bases da estabilidade fiscal de Fernando Henrique Cardoso, enquanto nas campanhas falava contra a "herança maldita" do governo anterior.

A estratégia foi bem-sucedida, mas quando Lula se viu livre das amarras fiscais, com a popularidade em alta e Palocci fora da proposta, iniciou a tomar decisões opostas no seu segundo mandato. A economia resultou com o descontrole das contas públicas e o enfraquecimento do apoio político, uma realidade que se intensificou quando tanto ele quanto Dilma Rousseff assumiram o comando direto da economia. Nesse cenário, as falhas administrativas ficaram evidentes: quando os técnicos da área econômica são desprezados ou subestimados, o país paga o preço.

O próprio Lula já viveu um exemplo de resistência à intromissão política na economia. Quando Henrique Meirelles esteve à frente do Banco Central, ele impôs uma barreira de não interferência, deixando claro que, se pressionado, renunciaria. FHC, em sua época, também resistiu à tentativa de Itamar Franco de congelar preços durante a implementação do Plano Real, decisão que acabou sendo crucial para o sucesso do projeto.

Agora, a insistência de Lula em tratar as medidas fiscais como uma questão puramente intuitiva, sem a mesma estrutura técnica que havia aprovada no passado, pode se tornar seu maior erro. Fernando Haddad, seu atual ministro da Fazenda, viu-se em uma batalha interna, defendendo que a autorização do Imposto de Renda não deveria ser usada como uma bandeira eleitoral, mas sim como parte de um planejamento fiscal mais amplo. Embora tenha cedido às políticas de pressão, o resultado dessa “rendição” parece agora colocar em risco a estabilidade fiscal tão duramente conquistada.

Essa escolha pode até abrir caminho para uma possível sucessão eleitoral em 2026 ou 2030, mas enfraquece a alteração de sua gestão econômica. Ao se fazer uma abordagem pessoal e eleitoral, Lula corre o risco de perder algo fundamental: a confiança da sociedade e do mercado, que depende da seriedade e da consistência na condução da economia. O preço dessa estratégia pode ser muito alto, e o reflexo disso será sentido não apenas nas urnas, mas principalmente nas contas públicas do Brasil.

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*Com informações Folha de S.Paulo