Polícia Abuso de poder
Abuso de poder: PM invade igreja em Campo Grande e pressiona membro sem mandado, desrespeitando liberdade religiosa
Ilegalidade na abordagem de PMs gera indignação e denúncias de abuso, com igreja e fiéis exigindo respeito à Constituição e punição dos envolvidos
03/02/2025 11h36 Atualizada há 5 horas
Por: Tatiana Lemes

Na noite deste domingo (2), a Polícia Militar de Campo Grande protagonizou um episódio grave de abuso de poder ao invadir uma igreja localizada na Rua Rui Barbosa, no centro da cidade. Durante um culto, a viatura da Força Tática abordou um membro da congregação, pressionando-o contra a parede sem apresentar nenhum mandado de prisão ou busca, à procura de uma criança de aproximadamente 2 anos e meio envolvida em uma disputa de guarda. O caso gerou indignação entre os fiéis e seus líderes denunciando a ilegalidade e o desrespeito à liberdade religiosa.

De acordo com o pastor Lucas Cohen, dirigente da igreja, os policiais estavam posicionados em frente ao local e, quando o membro da igreja saiu, ele foi abordado violentamente. "Não tinham mandado, e quando fui conversar com o sargento, ele disse que se não entregássemos a criança, eles iriam invadir a igreja", afirmou Cohen, visivelmente revoltado com a atitude dos agentes. O relato ainda inclui um homem que estava com os policiais, inicialmente se apresentando como oficial de justiça e depois como advogado, que disse: "Tenho um mandado, mas não vou mostrar, só na delegacia".

O caso envolve uma criança procurada por dois rapazes, que, segundo o pastor, haviam visitado a igreja no sábado anterior, observando o culto e sendo observados pelos obreiros, antes de se retirarem. A igreja, no entanto, não tinha nenhuma ligação com o processo de guarda, sendo um local de acolhimento e respeito. "A igreja não tem nada a ver com isso. O que aconteceu foi um desrespeito total à liberdade religiosa. Se a PM começar a invadir cultos dessa forma, onde vamos parar? E os pastores e fiéis, como serão tratados?", questionou Cohen.

A situação ficou ainda mais grave quando o delegado de plantão, ao ser informado sobre o ocorrido, não reconheceu a necessidade da abordagem militar. "O delegado disse que não precisava disso, que não havia mandado, e que o processo de guarda estava em andamento. Ele não entendeu a atitude dos policiais", revelou Cohen, acrescentando que o membro abordado e seu advogado passaram a noite na delegacia devido à situação absurda.

Liberdade religiosa em risco
A Constituição Federal do Brasil é clara ao garantir a inviolabilidade da liberdade religiosa, com o artigo 5º, inciso VI, assegurando o "livre exercício dos cultos religiosos" e a proteção dos locais de culto. Além disso, o Código Penal brasileiro define punições severas para aqueles que violarem a liberdade religiosa, o que coloca a ação da Polícia Militar em questão, considerando os direitos garantidos pela lei.

Repercussão e medidas legais
Em resposta ao abuso de autoridade, de acordo com uma advogada consultada, a orientação é que a primeira medida seria registrar um boletim de ocorrência contra os policiais envolvidos e identificar os agentes da guarnição para que medidas legais sejam tomadas.

Cohen ainda disse que isso é inadimissível acontecer na frente de uma igreja. "Não podemos deixar que isso se repita. Precisamos garantir a punição dos responsáveis e que as igrejas e seus membros sejam respeitados", disse.

O pastor Lucas Cohen concluiu seu relato enfatizando a necessidade de o caso ser tratado com seriedade. "A igreja e seus membros devem ser respeitados, como todos os cidadãos, e temos que lutar para que nossa liberdade religiosa não seja violada dessa forma. Não podemos permitir que nossa igreja seja tratada dessa maneira", declarou, pedindo que as autoridades tomem uma posição firme.

O caso segue em investigação, e a comunidade religiosa aguarda uma posição das autoridades responsáveis, enquanto se questiona sobre os limites do poder policial em relação à inviolabilidade dos cultos religiosos garantida pela Constituição.

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