O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) comentou a possibilidade de um mecanismo para viabilizar transações comerciais com a Argentina para delimitar a dependência do dólar, através de uma moeda digital - possívelmente para atender o Mercosul, inicialmente.
A explicação foi dada durante a chegada da comitiva presidencial a Buenos Aires, no hotel onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os ministros estão hospedados para participar da Cúpula da CELAC, Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe.
Haddad explicou que a ideia é criar um mecanismo para estreitar laços comerciais entre Brasil e Argentina e confirmou que conversou com o ministro da Economia do país, Sérgio Massa sobre o assunto.
Massa concedeu uma entrevista ao Financial Times comentando o assunto, mas comparou ao euro, o que gerou ruído com interlocutores do governo brasileiro.
“Isso que a gente tá quebrando a cabeça pra encontrar uma solução. Alguma coisa em comum, alguma coisa que permita a gente incrementar o comércio porque a Argentina é um dos países que compram manufaturados do Brasil”, declarou.
Moeda Digital
Brasil e a Argentina devem anunciar nesta semana que estão começando a preparar o projeto de uma moeda comum, de acordo com o jornal britânico Financial Times.
O movimento pode eventualmente criar a segunda maior moeda de um bloco econômico do mundo. Um anúncio oficial é esperado durante a visita do petista à Argentina, aponta o jornal.
A princípio, a agenda divulgada pelo Palácio do Planalto indica que os compromissos de Lula na Argentina devem tomar a agenda da segunda (23) e terça-feira (24). Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, fazem parte na comitiva.
A agenda oficial inclui reunião com o presidente Alberto Fernández, encontro com empresários, eventos culturais e, por fim, a participação na 7ª Cúpula de Chefas e Chefes de Estado da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) na terça.
Haddad negou a criação da moeda digital no começo deste mês.
O tema apareceu, inicialmente, depois de o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, exaltar o compromisso do ministro da Fazenda com a adoção de uma moeda comum no Mercosul.
Moeda do Mercosul?
Dois dias depois, o petista negou que existisse qualquer proposta para criação de uma moeda única entre os países do Mercosul, como alguns interlocutores do governo haviam ventilado à imprensa.
Mas, de acordo com a reportagem dos jornalistas Michael Stott e Lucinda Elliott, com apoio de Bryan Harris, as duas maiores economias da América do Sul vão discutir o plano para uma moeda comum em Buenos Aires, nesta semana, e devem convidar outras nações latino-americanas para participar.
"Sur"
O foco inicial será em como a nova moeda, que o Brasil sugere que seja chamada de “sur”, pode impulsionar o comércio regional e reduzir a dependência no dólar, segundo fontes oficiais disseram ao Financial Times. No começo, ela pode circular em paralelo ao real e ao peso.
“Haverá uma decisão para começar a estudar os parâmetros necessários para uma moeda comum, o que inclui tudo de questões fiscais ao tamanho da economia e papel dos bancos centrais”, disse o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, ao Financial Times.
“Deverá ser um estudo dos mecanismos para a integração comercial”, acrescentou. “Eu não quero criar nenhuma expectativa falsa... é o primeiro passo de um longo caminho que a América Latina precisa trilhar.”
Inicialmente um projeto bilateral, a iniciativa deve ser oferecida a outras nações na América Latina. “É a Argentina e o Brasil convidando o resto de região”, disse o ministro argentino.
O impacto de uma moeda única no Mercosul
Uma união monetária que cubra toda a América Latina representaria cerca de 5% do PIB global, estima o noticiário britânico. A maior união monetária do mundo o euro, cobre cerca de 14% do PIB global quando medido em dólares.
Brasil e Argentina já discutiram uma moeda comum nos últimos anos, mas as conversas barraram na oposição do Banco Central do Brasil à ideia, disse um oficial próximo às discussões. Agora que os dois países são governados por líderes de esquerda.
Por outro lado, um porta-voz do Ministério da Fazenda brasileiro disse que não tem informação sobre um grupo de trabalho sobre uma moeda comum.
A atratividade de uma nova moeda comum é mais óbvia para a Argentina, onde a inflação anual está se aproximando de 100% enquanto o banco central imprime moeda para financiar gastos.
Argentina foi cortada do Mercado Internacional por "Calote Técnico"
Haverá preocupações no Brasil sobre a ideia afetar tragar a maior economia da América Latina para a perene volatilidade do vizinho. A Argentina foi cortada dos mercados internacionais de dívida desde o default (calote técnico) de 2020 e ainda deve mais de US$ 40 bilhões ao FMI de um empréstimo emergencial de 2018.