A revelação de que a Polícia Federal recebe, em média, 1.500 denúncias diárias de crimes digitais contra crianças e adolescentes expõe uma crise alarmante. As vítimas são alvos de redes criminosas altamente organizadas, que operam em plataformas criptografadas e pouco monitoradas, como Clover Space, Telegram e SimpleX. A denúncia foi reforçada por Michelle Prado, pesquisadora e fundadora da ONG Stop Hate Brasil, que alerta para uma "epidemia de radicalização on-line" no país.
Entre 2001 e 2024, foram registrados 61 atentados em escolas brasileiras, com 43 ocorrendo apenas nos últimos dois anos. “O aliciamento começa em redes abertas, como TikTok e Instagram, e leva crianças e adolescentes para plataformas quase irrastreáveis”, afirmou Prado. Essas redes criminosas promovem práticas que vão desde automutilação e ingestão de produtos tóxicos até incitação à violência e abuso sexual.
Estado em alerta, mas ações ainda insuficientes
Apesar da gravidade da situação, o Brasil carece de um canal nacional único para denúncias contra crimes digitais envolvendo menores. Segundo a secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça, Lilian Cintra de Melo, um projeto de lei para criação desse canal foi encaminhado à Casa Civil. “Estamos trabalhando com prioridade absoluta, como manda a Constituição, mas é um desafio que demanda articulação com as autoridades estaduais”, explicou.
A primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, também se manifestou, pedindo urgência na regulamentação das redes sociais. Ela destacou que o ambiente digital sem controle está diretamente ligado a tragédias, como a morte da pequena Sarah, no Distrito Federal. “A regulamentação das redes sociais é urgentíssima”, enfatizou.
Desafios tecnológicos e jurídicos
Especialistas destacam a necessidade de ações conjuntas entre órgãos nacionais e internacionais para combater crimes cibernéticos que transcendem fronteiras. “As plataformas precisam adotar políticas mais rigorosas de monitoramento e colaborar com as autoridades para coibir a disseminação de conteúdos ilícitos”, apontou Chiara de Teffé, coordenadora do ITS/UERJ.
Além disso, Prado alertou para a evolução das estratégias criminosas. Plataformas como SimpleX são descritas como “quase irrastreáveis”, dificultando ainda mais o trabalho das autoridades.
Caminhos para a proteção de crianças
A solução passa pela atualização das leis e maior rigor na regulamentação das plataformas digitais. Além disso, especialistas defendem a educação digital como ferramenta preventiva, capacitando crianças e adolescentes a reconhecer e evitar situações de risco. “Famílias, escolas e instituições devem trabalhar em conjunto para promover um ambiente digital seguro, enfatizando a importância do diálogo sobre os perigos da internet”, reforçou Chiara.
Com as denúncias diárias em alta e a falta de estrutura adequada para lidar com os crimes digitais, o Brasil enfrenta o desafio de proteger sua população mais vulnerável. A expectativa agora é que o Congresso Nacional avance nas discussões para frear essa epidemia silenciosa que ameaça o futuro de milhares de crianças e adolescentes.
*Com informações Correio Braziliense