Após dez horas de depoimento, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, afirmou que desconhece a pessoa que elaborou a chamada “minuta” encontrada em sua casa, e que nunca teria levado o documento ao conhecimento do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
O depoimento aconteceu no 4° batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), nesta quinta-feira (02). A polícia federal e integrantes da PGR chegaram ao local do depoimento pouco antes das 10h30, horário marcado para o início depoimento.
Ainda sobre a minuta do golpe, o ex-ministro disse que era um documento “sem viabilidade jurídica” e ressaltou que tecnicamente era um documento “muito ruim, com erros de português, sem fundamento legal.
Torres, disse “que esses documentos vinham de diversas fontes para que fossem submetidas ao Ministro; em razão da sobrecarga de trabalho levava todos os documentos da pasta para casa; e os documentos importantes eram despachados e retornavam ao Ministério e os demais eram descartados; considera a minuta do decreto totalmente descartável: se tratava de um documento sem viabilidade jurídica”, afirma o documento.
Disse ainda que não foi ele quem colocou o documento na pasta, e que pode ter sido uma funcionária ao arrumar a casa, concluiu dizendo que “não é por ter sido encontrado na estante é que teria importância; QUE na verdade já era para ter sido descartado;”.
Sobre os atos do dia 8 de janeiro, Torres afirmou que assinou o plano de ações elaborados pela PMDF e que se tivessem cumprido o plano, a invasão e depredação das sedes dos 3 poderes jamais teriam acontecido. O ex-ministro ainda disse que se soubesse da probabilidade de atos golpistas não teria viajado.
Já no caso das acusações de fraude nas eleições, Torres afirmou que não houve fraude e que este assunto nunca teria sido tratado no Ministério da Justiça.
Sobre os acampamentos ele disse que os Patriotas estavam em área militar, cabendo ao comando do exército e as secretarias de segurança dos estados agirem de acordo com suas atribuições. Não cabia atuação do Ministério da Justiça.
Revogação de prisão
O advogado de Torres, Rodrigo Roca, afirmou que, na próxima segunda-feira (6), irá pedir a revogação da prisão preventiva ou a substituição por outra medida mais branda, como ficar preso em casa e usar tornozeleira eletrônica, e que ele não tem mais razões para continuar preso. A prisão aconteceu no dia 14 de janeiro.
“Foram muitas questões, todas elas foram respondidas. Explicou sobre tudo que lhe foi perguntado. Por exemplo, a questão do celular, criou-se um mito. Ele estava nos Estados Unidos, com a família, teve a notícia de uma ordem de prisão, precisou se deslocar para driblar a imprensa e não ser mais exposto do que o necessário e desligou o celular. Nessa correria, com troca de aeroporto, foi à Miami, e ainda assim foi fotografado por um passante qualquer. O clima era de desespero, ele estava atormentado, preocupado, então perdeu o celular”, disse o advogado.
Sigilo telefônico e bancário
De acordo com Roca, durante o depoimento, Torres disponibilizou à PF o acesso aos arquivos do celular (nuvem) e também a afirmou que pode entregar todos os seus sigilos desde telefônico, bancário ao telemático, que protege a troca de mensagens do celular. Torres colocou também seu passaporte à disposição.
Novos depoimentos
A partir do depoimento dele, a Polícia Federal deve ouvir outras pessoas, como ex-funcionários de Torres. No depoimento, ele afirma que o documento,foi colocado em suas pastas por assessores do Ministério da Justiça.