O Palácio do Planalto apertou o passo nesta semana e desengavetou um projeto considerado ambicioso — e polêmico — no tabuleiro político: costurar uma “superfederação” com partidos à esquerda do espectro, capaz de turbinar bancadas e neutralizar a instabilidade que vem minando a agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.
Na terça‑feira (1º de julho), emissários do governo se reuniram reservadamente com dirigentes de PCdoB e PV — já federados ao PT — e avançaram nos contatos com PSB e PDT. A ideia é simples na teoria, mas complexa na prática: fundir legendas anticentrão numa federação registrada no Tribunal Superior Eleitoral, obrigando‑as a agir como um único partido durante quatro anos.
O movimento ganhou urgência depois de um junho desastroso para o Planalto: parlamentares derrubaram o reajuste do IOF e empurraram a conta de luz para cima, ignorando a base governista que já se ressente de cargos e emendas. Nas palavras de um assessor palaciano, “a água bateu na cintura” e a guitarra ministerial não tem mais som suficiente para segurar votos.
Apesar de não rechaçarem a proposta, PSB e PDT exibem cautela. O PSB — que abriga o vice‑presidente Geraldo Alckmin — teme virar coadjuvante numa máquina dominada pelo PT, lembrando a tentativa fracassada de aliança em 2022. Os socialistas, aliás, avançam paralelamente numa federação com o Cidadania, o que trava o entusiasmo.
Já o PDT, ainda às voltas com a crise que explodiu no INSS e culminou na queda de Carlos Lupi da Previdência, afrouxou os laços com o governo e flerta com a centro‑direita em busca de sobrevida eleitoral. A sigla vê na superfederação o risco de engessamento nas disputas majoritárias — prefeitos, governadores e senadores passariam a depender do aval coletivo das legendas federadas.
Dentro do PT, a articulação conta com a bênção de Lula e deve ganhar tração após as eleições internas da sigla, onde o ex‑prefeito de Araraquara, Edinho Silva, desponta como favorito para assumir o comando nacional. Considerado um operador pragmático, Edinho tem a missão de aparar arestas e oferecer garantias de que os menores não serão “engolidos” pela máquina petista.
Na prática, a federação somaria votos proporcionais, ampliando a chance de eleger deputados federais e estaduais — justamente onde o Palácio sente o calo apertar. Mas o mesmo arranjo pode virar camisa de força nas majoritárias: qualquer candidato a prefeito, governador ou senador precisará de consenso entre todas as agremiações federadas, um quebra‑cabeça que espanta nomes competitivos.
Ainda assim, a ordem de Lula é clara: acelerar as tratativas antes que novas pautas‑bomba estilhacem a frágil base governista. Se o Supremo Tribunal Federal intervier a favor do Executivo em embates como o IOF, a crise entre Poderes tende a inflamar — e o Planalto quer chegar lá com um exército legislativo mais robusto.
Por ora, a superfederação é um balão de ensaio que divide opiniões, mas o Planalto já colocou combustível extra na operação. A mensagem é explícita: sem uma bancada coesa, 2026 pode repetir o pesadelo parlamentar de 2025 — e o PT sabe que, desta vez, o Centrão não sairá barato do balcão de negociações.
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*Com informações Metrópoles