Mato Grosso do Sul Terreiros
Terreiros viram cenário de abusos em Campo Grande e federação reage com conselho de ética
Relatos de estupro, tortura e uso de drogas em rituais provocam reação urgente da Federação Ajô Nilê, que promete regras claras e punição a falsos líderes espirituais
24/07/2025 10h59
Por: Tatiana Lemes
Foto: Reprodução

As denúncias de crimes dentro de terreiros de religiões de matriz africana em Campo Grande causaram indignação e provocaram uma resposta imediata da Federação Ajô Nilê, representante dos povos de terreiro em Mato Grosso do Sul. Para impedir que a fé continue sendo usada como disfarce para práticas criminosas, a entidade anunciou a criação de um conselho de ética estadual e a elaboração de uma cartilha com normas obrigatórias para todas as casas religiosas filiadas.

As acusações são alarmantes: estupros, tortura psicológica, ameaças de morte, uso forçado de álcool e drogas e até ferimentos com lâminas em adolescentes, tudo isso sob o pretexto de rituais religiosos. Dois homens que se autointitulam pais de santo foram denunciados à polícia. Um deles chegou a ameaçar seguidores em grupos de WhatsApp e tentar arrecadar dinheiro para contratar advogado.

"Essas pessoas não nos representam. Não passaram por formação tradicional nem foram reconhecidas como sacerdotes legítimos. São criminosos usando a religião como escudo", disse o presidente da federação, Deamir Ribeiro, ao anunciar medidas emergenciais.

Casos que chocam até os praticantes

Um dos relatos mais brutais envolve duas mulheres forçadas a ficar ajoelhadas por uma hora segurando velas, enquanto ouviam ameaças. Em outro caso, sete pessoas teriam sido obrigadas a beber até perder os sentidos. O suposto líder espiritual ainda proibia incorporações durante os cultos e ameaçava quem se opusesse.

Mas o que mais chamou atenção foi o caso de adolescentes supostamente dopados e molestados sob a justificativa de que o agressor estava “possuído por um guia espiritual”. Um deles teve o braço cortado como parte de um suposto ritual de entrega.

A Polícia Civil investiga os casos. A federação orienta todas as vítimas a denunciarem e reforça que os verdadeiros terreiros pregam o respeito, a cura espiritual e o acolhimento — nunca o medo, o abuso ou a opressão.

Com o conselho de ética, a Federação Ajô Nilê quer traçar um novo marco para as religiões afro-brasileiras no Estado: limites claros, regras compartilhadas, formação responsável de lideranças e tolerância zero com crimes disfarçados de fé.

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*Com informações Midiamax