A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes na segunda-feira (4), provocou um abalo imediato no tabuleiro político de Brasília. A decisão, tomada em meio à tensão crescente entre Brasil e Estados Unidos por conta das sanções impostas ao magistrado pelo Departamento de Estado norte-americano, gerou reações duras da oposição e colocou o Congresso Nacional no centro de uma nova crise institucional.
A resposta foi rápida. Parlamentares da direita e centro-direita iniciaram uma operação de obstrução no Legislativo e acusaram o Supremo Tribunal Federal (STF) de ultrapassar os limites constitucionais. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) classificou a decisão como “prisão política”, enquanto o senador Rogério Marinho (PL-RN) afirmou que o “Congresso está de joelhos e precisa se levantar”.
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciou que a base bolsonarista pretende travar as votações até que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), se manifeste sobre os pedidos de impeachment de Alexandre de Moraes — que já somam mais de 30. “A paciência acabou”, declarou.
Nos bastidores, há preocupação crescente com o impacto político da medida sobre a base do presidente Lula (PT), que enfrenta dificuldades para manter a articulação com o centrão. A avaliação entre líderes do Congresso é de que a decisão de Moraes provocou instabilidade e enfraqueceu a tentativa do governo de conter os danos causados pelas sanções internacionais.
Lula tentou demonstrar apoio institucional ao ministro, mas a cúpula do Planalto já reconhece que a situação é delicada. A ameaça de novas sanções dos Estados Unidos, aliada à pressão de empresários e à crescente rejeição popular, acendeu o alerta entre governistas. A ideia de acionar a Advocacia-Geral da União (AGU) para defender Moraes foi considerada “um gesto político simbólico, sem efeito prático”.
Analistas políticos ouvidos por nossa reportagem apontam que a prisão de Bolsonaro foi uma jogada de alto risco. “O governo Lula perde quando Moraes radicaliza. Essa prisão acende a militância bolsonarista, fragiliza o Congresso e ainda agrava a imagem do Brasil no exterior”, avalia o cientista político Bruno Lima Rocha.
A oposição, por sua vez, tenta capitalizar o episódio para retomar protagonismo político. O movimento apelidado de “pacote da paz” — que inclui projetos para anistiar os presos do 8 de janeiro, acabar com o foro privilegiado e limitar os poderes do STF — está sendo usado como uma ferramenta de pressão sobre o Senado.
No meio desse embate, Rodrigo Pacheco se vê pressionado a abandonar sua postura de neutralidade. Até aqui, tem evitado confrontos diretos com o Supremo, mas o crescimento da insatisfação entre senadores pode forçá-lo a dar uma resposta ao clima de ruptura que se instala.
A prisão de Bolsonaro, portanto, não apenas reacendeu o espírito combativo da oposição, como criou um novo dilema para o governo Lula: proteger Moraes e arcar com os custos políticos ou deixá-lo à própria sorte em nome da governabilidade. O desfecho dessa crise pode redefinir o equilíbrio de forças na República.
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*Com informações Gazeta do Povo