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Romaria fluvial antecede procissão do Círio de Nazaré, em Belém
previsão é de mais de 2 milhões de pessoas na procissão deste domingo
11/10/2025 13h01
Por: WK Notícias Fonte: Agência Brasil

Belém amanheceu neste sábado (11) com a romaria do Círio Fluvial, que faz parte das comemorações do Círio de Nazaré. Saindo às 9h do Trapiche do Distrito de Icoaraci rumo à Escadinha da Estação das Docas, a imagem Peregrina é levada a bordo do navio Garnier Sampaio, da Marinha do Brasil, responsável também pela organização e controle da romaria.

A estimativa é que cerca de 50 mil pessoas e mais de 400 embarcações participam da romaria em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré.

Considerada uma das mais belas procissões do Círio, a Romaria Fluvial acontece desde 1986. O trajeto tem duração aproximada de duas horas, com 10 milhas marítimas (cerca de 18,5 km). A chegada da Imagem Peregrina à Escadinha (Praça Pedro Teixeira) é marcada por honras de Chefe de Estado, uma vez que uma lei estadual de 1971 proclamou Nossa Senhora de Nazaré Padroeira do Pará e Rainha da Amazônia.

Ainda ontem, a maior procissão em extensão, com a imagem peregrina de Nª Sª de Nazaré havia percorrido 52,3 quilômetros, até as 18h sem incidentes. Neste sábado, tem mais procissões: a procissão rodoviária por 24 quilômetros, antecedeu a Romaria Fluvial e, depois, com haverá a moto romaria.

À noite ocorre a Trasladação, que dura cerca de 5 horas e meia e numa antecipação do que acontecerá amanhã, a partir das 6h, quando tem início a procissão mais importante do Círio, com cerca de 2 milhões de pessoas.

Procissão

Este ano, a maior procissão católica do mundo celebra a sua 233ª edição às vésperas da 30ª, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), e por isso está sendo considerada a COP da floresta.

Considerado patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, o Círio de Nazaré é uma festa que mostra a devoção do povo paraense e a previsão é de mais de 2 milhões de pessoas na procissão deste domingo (12).

Casa de Plácido

Local de abrigo, solidariedade, acolhimento e amor, a Casa de Plácido faz uma homenagem ao paraense agricultor e caçador Plácido José de Souza, que no ano de 1.700 encontrou a pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré, entre pedras lodosas às margens do Igarapé Murutucu - onde atualmente se encontra a Basílica -, no tronco de uma árvore.

Após o achado, Plácido levou a imagem para a sua choupana e, no outro dia, ela não estava lá. Correu ao local do encontro e lá estava a imagem da Santinha. E o fato se repetiu várias vezes. Plácido, então, construiu no local uma ermida. Mas para muito além da história, é na “Casa de Plácido” que o milagre da fé se corporifica no ritual do lava-pés uma demonstração de humanidade e doação.

Por ali passam as caravanas dos romeiros. Segundo a coordenadora da Acolhida da Casa de Plácido, Maria da Conceição Rodrigues, este ano são esperadas 18 mil pessoas que serão atendidas pelas equipes de voluntários que trabalham em revezamento.

“Estamos neste Círio com 530 voluntários, de diversas profissões de médicos, advogados, contador, pedreiros, desempregados, todas as profissões. Temos também estudantes de medicina e de fisioterapia trabalhando como massagistas. Somos 14 equipes de trabalho, atendimento, recepção, pessoal que dá a refeição, pessoal que cozinha”, explicou Maria da Conceição.

A Casa de Plácido presta atendimento para os romeiros do Círio. O local foi aberto oficialmente na quarta-feira (8) e fica aberto até amanhã (12), às 13h. Sendo reaberta na terça-feira (14) para o resto da quinzena do Círio. O fechamento ocorre para que os voluntários também consigam acompanhar a procissão de domingo. O local.

“Ano passado, tivemos 238 caravanas e foram 20.500 pessoas só de caravanas, de romeiros visitantes foram 11 mil. Nós acreditamos que essa expectativa vai aumentar, até quarta-feira quando a casa não estava aberta já tínhamos 212 caravanas inscritas e já tinha uma média de 18 mil pessoas”, disse.

“Por exemplo, a pessoa chegou passando mal, ela vai direto para o serviço médico, se precisar tomar um soro, toma; se precisa de uma insulina, toma. Se o médico avaliar que o caso é mais grave, temos a ambulância e ela já faz o encaminhamento para o hospital”, descreveu.

Arte e devoção

O Círio de Nazaré é um evento de múltiplas dimensões, além de congregar, a fé, devoção e a renovação da esperança, o Círio está presente em cada canto de Belém e também no trabalho dos artistas, artesãos, que buscam traduzir a experiência. Uma dessas pessoas é a artista paraense Aline Folha, que produz diversas peças, como camisas, louças, entre outras, com o tema do Círio.

“Desde o começo do mês, eu já vivo o Círio. Eu vivo em estado de outubro, como o paraense gosta de falar. A gente tem essa coisa de esperar pelo cheiro da cidade que fica diferente, a energia das ruas, que fica diferente”, relata.

Este ano, Aline foi convidada a criar a ilustração das peças de comunicação e ativações do Círio para uma empresa de mineração. Sua obra transita pelos estados emocionais do cotidiano feminino, especialmente pela vivência do maternar, em uma busca por liberdade, acolhimento e possibilidade. A artista imprime em suas criações os rastros do processo artístico, o que evidencia a presença da água e do grafite na relação entre desenho e aquarela.

“O Círio para mim é uma experiência bastante pessoal. Tem alguma coisa de subjetivo e tem algo que a gente vive em conjunto, em comunidade, tem uma memória coletiva que faz a gente partir para nossas criações, nós artistas”, explica. “O que me emociona é o ritual que cada pessoa vive, o ritual de família de sair para ver a santa passar no mesmo cantinho todos os anos”, aponta.

Reconhecida por sua sensibilidade e autenticidade, Aline já foi convidada três vezes (em 2016, 2017 e 2022) para criar os mantos oficiais do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, maior manifestação cultural-religiosa do Pará. Em 2023 e 2024, foi escolhida por uma empresa para desenvolver as primeiras coleções de louças temáticas da festividade, intituladas Caminhos do Círio e Raízes de Fé, projetos que celebram a fé e a identidade paraense com traços delicados e simbólicos.

“As minhas principais inspirações vieram das sensações que o Círio provoca em quem o vivencia. Busquei representar esses sentidos aflorados e como eles podem despertar memórias afetivas e coletivas nessa grande festa paraense”, conta Aline. A arte criada este ano incorpora diversos elementos culturais como o tacacá, os brinquedos de miriti, os gritos de “viva, viva, viva”, os fogos de artifício e a figura feminina que acolhe uma criança. “ O principal desafio foi manter o aspecto aquarelado em uma arte que pudesse ser aplicada de formas e tamanhos diversos nas peças da campanha”, acrescenta.

Aline realizou as seguintes exposições individuais: “Elas”, no Espaço Cultural do TRT-8; “Elas Estampadas”, na Casa Oiam; “Florescer Mãe”, no Shopping Bosque Grão Pará; e “O Peso das Coisas Leves”, novamente no Espaço Cultural do TRT-8.

Atualmente, faz do seu atelier na capital paraense um espaço múltiplo, onde além de produzir também realiza cursos livres ou corporativos, e recebe o público, clientes e alunos.

*A repórter viajou a Belém a convite da Vale