Política Candidatura
Lula se lança à reeleição, mas escândalos, crise fiscal e oposição feroz ameaçam seu “já ganhou”
Entre CPMI do INSS, desgaste no Congresso e pressões externas, o presidente enfrenta um cenário turbulento que pode colocar sua candidatura em xeque
31/10/2025 12h24
Por: Tatiana Lemes
Foto: Reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou oficialmente sua candidatura à reeleição durante viagem à Indonésia, gesto esperado há mais de um ano, mas que não apaga as fissuras políticas e econômicas que ameaçam seu terceiro mandato. Apesar de liderar pesquisas com 37% das intenções de voto no primeiro turno, especialistas alertam: os sinais de alerta estão acesos.

Pesquisas mascaram desgaste real
Embora Lula apareça à frente em todos os cenários de intenção de voto, a maioria dos eleitores questiona se ele deveria disputar novo mandato. A desaprovação do governo supera a aprovação, refletindo cansaço e desconfiança da população em relação à capacidade de gestão do presidente. “O cenário eleitoral não é um mar de tranquilidade. Há insatisfação acumulada que não aparece nas pesquisas quantitativas”, explica o cientista político Ismael Almeida.

Congresso hostil e risco fiscal
A fragilidade da base parlamentar é um dos maiores problemas do governo. O Orçamento de 2026 evidencia a tensão: enquanto o Executivo tenta garantir recursos para programas sociais em ano eleitoral, o Centrão exige o pagamento integral de suas emendas até junho, pressionando ainda mais as contas públicas. Analistas alertam que o risco de estrangulamento fiscal é real e que o colapso previsto para 2027 pode se antecipar.

“O Centrão pode abandonar a base a qualquer momento. Com a economia instável, qualquer discurso de que tudo está sob controle se desfaz rapidamente”, afirma Almeida.

Escândalos e desgaste político
A CPMI do INSS que investiga desvios de aposentadorias e pensões de aliados adiciona uma camada de vulnerabilidade política a Lula. Paralelamente, o presidente se vê criticado por declarações polêmicas, como ter chamado traficantes de “vítimas dos usuários”, que foram amplamente exploradas pela oposição e pela mídia.

No campo da segurança, a pressão aumenta. Megaoperações estaduais no Rio de Janeiro eliminaram 117 criminosos do Comando Vermelho em confrontos, deixando claro que o governo federal é percebido como inerte. Lula enfrenta, assim, críticas tanto da esquerda, que reprova operações letais, quanto de setores centristas e produtivos, que cobram firmeza.

A ameaça externa e o risco da direita
A onda conservadora na América do Sul coloca mais pressão sobre o presidente. A vitória de líderes de direita na Argentina e na Bolívia, com apoio explícito de Donald Trump, mostra que a oposição pode contar com retaguarda externa. A negociação brasileira para reduzir tarifas de 50% impostas pelos EUA ainda é incerta, deixando Lula vulnerável à percepção de ineficiência no comércio internacional.

A oposição afiada e a estratégia do centrão
Para especialistas eleitorais, a oposição pode explorar fragilidades de Lula em 2026. Manter Jair Bolsonaro como referência da direita, mesmo impedido judicialmente, é uma estratégia para preservar a base de votos conservadora. Paralelamente, a pauta da anistia e a denúncia contínua da “desgraça econômica” do governo são consideradas armas fundamentais para atacar a candidatura do presidente.

Um mandato em risco
Entre desgaste interno, escândalos, falhas na comunicação e crises econômicas, o discurso de “já ganhou” do presidente parece cada vez mais fora de sintonia com a realidade. Analistas alertam que, se a base parlamentar vacilar ou a economia piorar, Lula corre o risco de enfrentar um cenário eleitoral muito mais desafiador do que qualquer pesquisa sugere.

A corrida presidencial de 2026, portanto, não será decidida apenas nas urnas, mas pela capacidade de Lula de controlar crises múltiplas, equilibrar contas públicas e se reconectar com eleitores desgastados pelo seu governo. Qualquer passo em falso pode transformar a aparente liderança em vulnerabilidade extrema.

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*Com informações Gazeta do Povo