Política Reduto
Fraudes no INSS atingem em cheio o Nordeste e expõem vulnerabilidade de reduto eleitoral de Lula
Mais de 2 milhões de nordestinos contestam descontos indevidos; escândalo bilionário põe governo sob pressão política
10/11/2025 12h18
Por: Tatiana Lemes
Foto: Reprodução

As fraudes nos descontos associativos do INSS estão deixando um rastro de prejuízo e indignação no Nordeste — justamente a região que mais apoiou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas. Segundo dados oficiais encaminhados à CPMI do INSS, 36,4% das 5,9 milhões de contestações registradas em todo o país foram feitas por beneficiários nordestinos — 2.147.653 reclamações no total.

Embora o número seja próximo ao do Sudeste (36%), o impacto no Nordeste é desproporcional: a região tem 11 milhões de beneficiários, contra 18 milhões no Sudeste. Ou seja, um em cada cinco nordestinos precisou contestar descontos que não reconhecia em sua folha de pagamento, um golpe que, segundo a investigação, contou com a colaboração de servidores do INSS e movimentou bilhões de reais.

A prática consistia em descontos automáticos de associações e sindicatos sem autorização dos aposentados, muitos deles dependentes exclusivamente do benefício previdenciário para sobreviver. O esquema, revelado pela CPMI, atingiu especialmente cidades de pequeno e médio porte — onde a vulnerabilidade social e a falta de acesso à informação facilitaram o golpe.

Entre as vítimas está Vilma Barbosa, moradora de Jaboatão dos Guararapes (PE), que teve mais de R$ 900 descontados pelo Sindicato Nacional dos Aposentados do Brasil (Sinab). “Usaram documentos que nem eram meus. Era de um homem que eu nunca vi na vida”, relatou.

Outro caso é o de Paulo Pereira, contador aposentado de 80 anos, que teve R$ 600 retirados indevidamente pela Caixa de Assistência dos Aposentados e Pensionistas (CAAP). “Não descontaram de gente rica. Só de pobre”, resumiu.

O cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), afirma que o escândalo tem peso político inédito: “Essas fraudes atingem o coração do eleitorado de Lula. O impacto será proporcional à capacidade da oposição de explorar o caso.”

Ainda segundo Gomes, o governo tenta conter o desgaste com ações judiciais e campanhas de comunicação. “Até aqui, tem conseguido mitigar parte dos danos. Mas, conforme novas informações vierem à tona, a crise pode se tornar um divisor de águas para o governo”, avalia.

Os números reforçam a gravidade do caso: além das 2,1 milhões de contestações no Nordeste, o Sul registrou 619 mil, o Norte 453 mil e o Centro-Oeste 195 mil — juntas, essas regiões somam menos de 25% das reclamações nacionais.

Enquanto isso, aposentados seguem tentando reaver seus prejuízos e cobrando explicações. Como resume Vilma Barbosa:

“O INSS exige segurança e biometria, mas essas associações entram na sua conta com uma facilidade absurda. É revoltante.”

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*Com informações Gazeta do Povo