Se você acha que já viu todos os escândalos possíveis no serviço público, leia com atenção: o rombo do INSS mostra agora uma rede sofisticada de repasses, contratos simulados e empresas de fachada que, segundo investigação da Polícia Federal e relatório da Controladoria-Geral da União, resultou em descontos indevidos que podem alcançar cerca de R$ 6,3 bilhões sobre aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024.
A Operação “Sem Desconto” e os desdobramentos da CPMI transformaram pistas em nomes e documentos. Entre os alvos mais citados estão operadores financeiros, dirigentes de associações, advogados e ex-gestores do INSS — alguns dos quais, segundo as investigações e planilhas apreendidas, teriam recebido repasses milionários em consultorias ou empresas intermediárias. Na sequência das apurações, a CPMI aprovou pedidos para que o Supremo avalie a decretação de prisão preventiva de 21 investigados.
Destaques do que já apareceu na investigação pública:
Esses elementos — planilhas apreendidas, extratos bancários, contratos e trocas de mensagens — compõem a base documental que a CPMI e a PF vêm cruzando. Alguns investigados já foram alvo de mandados de prisão e busca e apreensão em operações realizadas recentemente, e a comissão parlamentar segue requisitando novas quebras de sigilo e convocando testemunhas e peritos para esclarecer quem autorizou, quem executou e quem recebeu os repasses.
Por que esta matéria importa
O debate aqui não é só contábil: é humano. São milhões de beneficiários — muitos entre os mais vulneráveis — que, em centenas de municípios, viram parcelas de seus proventos serem desviadas sem autorização. O escopo da investigação abre também uma caixa preta sobre procedimentos administrativos, controles internos fracos e relações entre operadores privados e agentes públicos. A CPMI, por sua vez, tem a missão de traduzir documentos em responsabilidades políticas e criminais.
Quadro detalhado — investigados, valores públicos apontados e situação atual (conforme documentos/CPMI/PF)
Notas sobre o quadro: a lista abaixo reúne nomes que aparecem em documentos públicos, em pedidos da CPMI e em reportagens que citam fontes oficiais (PF, CGU, AGU, CP/MIs). Onde não há valor público atribuído nas fontes consultadas, marquei como “sem valor público atribuído (a apurar)”. Informação = o que consta publicamente até hoje; investigações seguem e defesas podem contestar.
| Nome / Cargo | Valor apontado (quando disponível) | Situação / Fonte principal |
| Antônio Carlos Camilo Antunes — “Careca do INSS” (empresário/operador) | ~ R$ 50–53 milhões (movimentações apontadas pela PF; parte repassada a terceiros). | PF / reportagens investigativas. Gazeta do Povo |
| Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho — ex-procurador-chefe do INSS |
R$ 6,5 milhões (repasse via empresas de fachada, 2022-2024. Há menções a cifras maiores em alguns relatórios. . | PF / CPMI / reportagens. CNN Brasil+1 |
| Alessandro Antônio Stefanutto — ex-presidente do INSS | R$ 250.000/mês (indicação de pagamentos mensais, segundo investigação).
| PF / relatórios anexados à CPMI. CNN Brasil+1 |
| André Paulo Félix Fidelis — ex-diretor de Benefícios do INSS | ~ R$ 5,186,205,00 (valor apontado empeças/relatórios ligado a empresas do entorno familiar). | AGU / documentos judiciais / reportagens. Portal da Câmara dos Deputados
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| Eric Douglas Martins Fidelis — (filho de André Fidelis) | Parte de R$ ~5,1 mi (escritório de advocacia recebeu pagamentos segundo apuração jornalística). |
Reportagens que citam documentos da investigação. Portal da Câmara dos Deputados
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Alexandre Guimarães — ex-diretor de Governança/Planejamento/INSS
| ~ R$ 313.205,29 (repasses apontados) |
AGU / peças da CPMI / reportagens. Portal da Câmara dos Deputados
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| Cícero Marcelino (ou Cícero Marcelino de Souza Santos) — operador financeiro / citado em investigações |
Sem valor público atribuído consolidado (aparece como operador de empresas de fachada e repasses). | PF / CPMI (citado em mandados/relatórios). Senado Federal+1 |
| Thaisa Hoffmann Jonasson — (associada/ligada a Virgílio) | Sem valor público atribuído (a apurar) |
CPMI / documentos judiciais. Agência Brasil
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| Rubens Oliveira Costa — (empresário) | Sem valor público atribuído (a apurar) |
Documentos/CPMI citam seu papel em operações de repasse. Senado Federal |
| Maurício Camisotti — (empresário ligado às associações) | Sem valor público atribuído (a apurar) |
Citado na lista da CPMI para pedido de preventiva. Gazeta do Povo |
| Vanderlei Barbosa dos Santos | Sem valor público atribuído (a apurar) |
CPMI — incluído nos pedidos da comissão. Gazeta do Povo |
| Geovani Batista Spiecker | Sem valor público atribuído (a apurar) |
CPMI — incluído nos pedidos da comissão. Gazeta do Povo |
| Cecília Rodrigues Mota | Sem valor público atribuído (a apurar) |
Lista aprovada pela CPMI; aparece em documentos públicos. Agência Brasil |
| Maria Paula Xavier da Fonseca Oliveira | Sem valor público atribuído (a apurar) | Lista/CPMI. Agência Brasil |
| Nelson Wilians Fratoni Rodrigues (advogado citado em operações) | Sem valor público atribuído (a apurar) |
PF / CPMI / reportagens citam pedidos e investigações. CNN Brasil
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| (Outros nomes constantes na lista de 21 da CPMI) | Sem valor público atribuído (a apurar) | A CPMI aprovou pedido de prisão preventiva para 21 pessoas; nem todas têm valores públicos atribuídos em reportagens até o momento. Senado Federal+1 |
Conclusão e próximos passos da apuração
A CPMI e a PF seguem com fases operacionais e com colheita de provas: quebras de sigilo, convocações, perícias e pedidos de arresto. As cifras já conhecidas (repasse a indivíduos, bloqueios pela AGU, estimativa de R$ 6,3 bilhões em descontos indevidos) dão dimensão ao caso — mas uma parcela significativa do desenho financeiro ainda precisa ser vinculada, juridicamente, a responsabilizações finais.