1. O balanço em números: Superávit em queda preocupa
O Brasil segue registrando superávit na balança comercial. O saldo de outubro de 2025 foi de robustos US$ 6,964 bilhões, o segundo maior para o mês na história. Contudo, a análise do acumulado do ano acende o sinal de alerta e fortalece a crítica à gestão econômica.
O superávit acumulado de janeiro a outubro de 2025 atingiu US$ 52,394 bilhões, mas este valor é 16,6% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Este desempenho mais fraco mostra que, embora o Brasil venda mais do que compra em termos absolutos, a economia perdeu o forte ritmo de anos anteriores. Os resultados positivos dependem majoritariamente da Agropecuária e da Indústria Extrativa, setores de commodities, enquanto a Indústria de Transformação (que gera mais valor agregado e empregos) cresce timidamente em volume e ainda registra queda no preço
médio de exportação.
2. A falsa vitrine diplomática e piorou para o Brasil.
O governo brasileiro celebrou a recente decisão dos Estados Unidos de reduzir a tarifa sobre produtos-chave, como café e carne bovina, de 50% para 40%. Contudo, essa concessão, que deveria ser um sucesso diplomático da gestão Lula, foi recebida com pessimismo pelos próprios exportadores.
O setor de Café foi o mais veemente ao criticar a medida. “Melhorou para os nossos concorrentes e piorou para o Brasil”, disse Marcos Matos,
diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Ele explica que, enquanto países competidores como Colômbia e Vietnã tiveram suas tarifas zeradas pelos EUA em acordos bilaterais, o Brasil apenas viu a taxa cair para 40%. Para o Cecafé, essa alíquota continua proibitiva; e não muda nada,mantendo o País totalmente fora do jogo. Como resultado direto do tarifaço, as importações americanas de café brasileiro caíram pela metade.
No setor de Carnes, a reação foi de comemoração comedida, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que vê na redução um sinal, mas ressalta que o objetivo final é a retirada total das tarifas. A expectativa ainda é que a taxação torne o produto brasileiro inviável no mercado americano.
3. O Impacto Real para o Consumidor e as Preocupações da Indústria
A inoperância do governo em negociar concessões recíprocas mais amplas se reflete diretamente na dificuldade de reverter os custos para o consumidor final. A redução parcial das tarifas nos EUA não deve causar uma queda imediata nos preços internos de carne e café, que são balizados pelo mercado internacional.
Além das tensões com os EUA, os grandes exportadores brasileiros citam outras preocupações que o governo não tem conseguido endereçar com eficácia:
1. Logística: CNI (Confederação Nacional da Indústria) aponta a logística e o alto custo de movimentação de produtos como o maior entrave à competitividade.
2. Burocracia Regional: A dificuldade na relação com a Argentina, que impôs novas restrições e atrasos de mais de 60 dias na aprovação de licenças, tem gerado impacto negativo, especialmente para a indústria de transformação.
3. Dependência de Mercados: Analistas de mercado alertam para a alta dependência do Brasil de poucos parceiros comerciais (como China e EUA), o que aumenta o risco em caso de novas tensões ou tarifaços.
Em um cenário onde os concorrentes avançam com acordos de tarifa zero, a gestão Lula não consegue converter o seu prestígio diplomático em ganhos reais e abrangentes para a economia, deixando o setor produtivo na defensiva.