Internacional Política
Chile define segundo turno e redesenha o mapa ideológico da região
Primeiro turno mostrou uma forte fragmentação — a soma das candidaturas de direita dominou a disputa e deixa Kast em posição de favorito rumo ao segundo turno em 14 de dezembro. O resultado reposiciona a região ideologicamente e acende o debate sobre união das direitas e capacidade de coalizão da esquerda
17/11/2025 07h20 Atualizada há 57 minutos
Por: WK Notícias Fonte: REDAÇÃO
Foto Getty Images/ AFP

O primeiro turno das eleições presidenciais no Chile, encerrado neste domingo, revelou um cenário que promete tensionar o tabuleiro político da América do Sul nas próximas semanas. A candidata de centro-esquerda Jeannette Jara terminou à frente, com pouco mais de 26% dos votos, seguida de perto pelo líder da direita radical, José Antonio Kast, que alcançou cerca de 24%. Embora Jara tenha liderado isoladamente, o grande destaque da disputa foi a forte presença da direita, cuja soma de candidaturas ultrapassou com folga o campo progressista.

A disputa agora segue para o segundo turno, marcado para 14 de dezembro, em um ambiente onde a fragmentação político-ideológica do primeiro turno pode se tornar o fator decisivo para a reta final.

 O reposicionamento ideológico no Chile e na região

O resultado deixou exposto um movimento que já vinha sendo percebido na América Latina: o fortalecimento de pautas conservadoras e de discursos centrados em segurança, contenção migratória e reação às agendas progressistas. No Chile, a situação se tornou palpável. Enquanto Jara representa a continuidade de um campo tradicional da esquerda, Kast carrega uma plataforma marcada por posições firmes na lei e ordem, além de críticas duras às gestões recentes.

O desempenho da direita no conjunto das candidaturas mostra que há um eleitorado robusto disposto a endossar uma guinada conservadora. Isso coloca o Chile no centro de uma discussão regional que envolve o avanço de partidos alinhados ao nacionalismo e ao conservadorismo, fenômeno já observado em eleições recentes da região.

A corrida pelos apoios pós-primeiro turno

As primeiras horas após a divulgação das urnas já mostraram movimentação intensa entre os candidatos derrotados. Lideranças de centro-direita começaram a sinalizar apoio a Kast, indicando que a direita tende a se unificar rapidamente para o segundo turno — algo que, se confirmado formalmente, coloca o candidato do Partido Republicano em posição vantajosa.

Do outro lado, a campanha de Jara trabalha para atrair o eleitorado moderado, sobretudo aqueles que rejeitam um projeto considerado radical. A aposta é na construção de uma frente ampla que reúna setores de centro e movimentos sociais que temem retrocessos em áreas como direitos civis, políticas sociais e relações trabalhistas.

Kast é favorito? Uma disputa aberta, mas com assimetria

Embora a diferença entre os dois candidatos seja pequena, Kast chega ao segundo turno com fatores estratégicos importantes:

– A direita somou mais votos no primeiro turno e tende à convergência;

– O discurso de segurança pública encontra ressonância em setores amplos da sociedade;

– A fragmentação inicial beneficiou o capital político do candidato conservador.

 Por outro lado, há resistências significativas à sua plataforma entre setores moderados, o que pode gerar uma migração de votos em direção à candidata da esquerda no segundo turno. Se Jara conseguir mobilizar os eleitores que rejeitam o extremismo político, o resultado pode se equilibrar rapidamente.

O que esta eleição diz sobre o futuro da América Latina?

O Chile se tornou, mais uma vez, um termômetro da região. A ascensão de Kast, mesmo sem vencer o primeiro turno, representa uma mudança na percepção do eleitorado chileno e reforça uma tendência que vem ganhando força no continente: a busca por discursos mais duros em segurança e governança.

 Ao mesmo tempo, o bom desempenho de Jara indica que a esquerda mantém um núcleo sólido e que a disputa entre progressismo e conservadorismo seguirá muito viva na região, especialmente em um cenário de pola rização crescente.

Um segundo turno histórico

Com as alianças ainda sendo costuradas e as campanhas se reorganizando, o Chile caminha para um dos segundos turnos mais decisivos de sua história recente. A disputa não definirá apenas o futuro de um país, mas pode influenciar profundamente os rumos ideológicos da América Latina.

No dia 14 de dezembro, os chilenos não escolherão apenas um presidente — escolherão qual projeto de sociedade desejam ver consolidado para a próxima década.