A declaração do chanceler alemão Friedrich Merz, afirmando que os jornalistas que o acompanharam à COP30 em Belém “ficaram contentes em deixar o Brasil”, acendeu um alerta diplomático e político sobre a percepção internacional do país. Ao revelar que, ao perguntar quem gostaria de permanecer no Brasil, “ninguém levantou a mão”, Merz sintetizou um incômodo que vinha sendo comentado de forma reservada entre delegações estrangeiras.
A fala repercutiu porque expõe algo que muitos países, inclusive os ausentes da COP30, já vinham sinalizando: a distância entre o discurso brasileiro de protagonismo climático e a realidade prática encontrada por visitantes, autoridades e especialistas. A declaração pública, rara em tom e franqueza, indica que o desconforto não era apenas pessoal, mas um sentimento compartilhado pela comitiva.
A edição da COP30 já havia sido marcada por ausências importantes, participação tímida de líderes globais e questionamentos sobre logística, segurança e infraestrutura. A fala de Merz funciona como gatilho para expor que o evento, apesar da relevância climática, não conseguiu reunir o protagonismo diplomático esperado.
A preparação de Belém também ganhou foco internacional. A cidade passou por obras emergenciais e ações de última hora para receber as delegações, mas observadores estrangeiros destacaram que houve a sensação de “maquiagem urbana”. Para muitos visitantes, as intervenções não foram suficientes para esconder problemas estruturais que afetam mobilidade, saneamento, segurança e serviços públicos.
O episódio serve como termômetro daquilo que a comunidade internacional hesita em dizer abertamente: o Brasil pretende assumir o protagonismo ambiental, mas ainda enfrenta dificuldades para entregar infraestrutura, organização e estabilidade condizentes com a ambição que apresenta nos palcos globais. A declaração do chanceler, embora desconfortável, revela um diagnóstico que já circulava nos bastidores da diplomacia internacional e que agora chega, sem filtros, ao leitor brasileiro.