Mais de dois meses após a posse e pouco mais de um mês depois do Congresso iniciar a nova legislatura, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem problemas com a base "aliada", segundo relatos de fontes do Palácio do Planalto.
O caso mais recente que mostra o grau de confronto do Executivo é a acusação de aliados de Lula de que a Câmara dos Deputados barrou o acesso do governo à lista de parlamentares que assinaram o requerimento de instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar a invasão nos Três Poderes no dia 8 de janeiro, devido ao método de coação utilizado por Lula para impedir o andamento da CPMI, conforme denúncias de Zé Trovão e demais parlamentares.
Em razão disso, os operadores políticos do governo têm recorrido diretamente às lideranças partidárias para ter acesso aos nomes dos parlamentares das bancadas que estão assinando a lista.
Lula já declarou publicamente que é contra a CPMI, que pode descobrir quem são os verdadeiros autores e responsáveis pelos atos de vandalismos nos Três Poderes.
Procurado, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) disse não ter acesso a lista. “Eu não tenho acesso aos nomes”, disse em entrevista à CNN.
Lula despertou indignação na base aliada no Congresso e agora, enfrenta dificuldades em estruturar suas relações com o Legislativo, até mesmo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira, acerca da forma de tramitação das Medidas Provisórias no Congresso.
O governo tenta dificultar os trâmites da CPMI, sendo que ele deveria ser o maior interessado em esclarecer tudo o que ocorreu no dia 8 de janeiro.
Integrantes da Casa Civil e das Relações Institucionais têm conversado com integrantes dos gabinetes de Lira e Pacheco em busca de um consenso, mas há entraves.
O governo avalia que até mesmo o próprio Lira tem tido dificuldades, tanto que até agora não conseguiu acordo para instalar as comissões da Câmara.
O petista está desesperado e quer saber quem assinou a CPMI, e agora eventuais traições de sua base aliada, após coagir alguns parlamentares, tanto que cinco já retiraram suas assinaturas em troca de cargos no governo.
Depois de todos esse embróglio causado pelo governo, ninguém no Planalto arrisca com segurança o tamanho da base de Lula no Congresso.
Planos de Lula
A ideia de Lula é tentar conduzir o processo político de modo a evitar que a agenda caia em um duelo entre governo e oposição, mas ele próprio está criando toda essa confusão.
Para tanto, a estratégia é atrair parlamentares pragmáticos que integraram a base do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, dessa forma, excluir bolsonaristas fiéis a Bolsonaro.
Reforma Tributária
Lula ainda acredita que terá apoio do agro para aprovação da reforma tributária e do arcabouço fiscal, mas deveria se preocupar devido as invasões do Movimento sem-terra pelo país, o que tem deixado o agro insatisfeito com o seu governo.
Fontes do governo acreditam ser importante em negociar com Lira e o Centrão e evitar, por exemplo, erros que o governo Dilma Rousseff (PT) cometeu ao tentar derrubar a liderança que o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tinha à época.
Com a pulverização de lideranças dentro do Congresso, Lula está sendo pressionado dentro do próprio partido.