O Banco Central (BC) não teve escolha a não ser presumir o que muitos já previam: a inflação subirá bem acima da meta em 2024. Em seu Relatório de Inflação de dezembro, divulgado nesta quinta-feira (19), a autarquia revelou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado até novembro atingiu 4,87%, ultrapassando o teto da meta de 4,50%. As projeções para 2025 também não são animadas, com a expectativa de que o índice fique em 4,59%, bem distante da meta de 3%.
Esses números deixam claro que a política monetária do BC, mesmo com a elevação da taxa Selic para 12,25% ao ano, não tem como conseguir conter as pressões inflacionárias. O cenário global, com a desaceleração da economia dos Estados Unidos, a persistência de núcleos inflacionários elevados e a fragilidade cambial na América Latina, agravada por fatores como a desaceleração econômica chinesa, coloca o Brasil em uma posição desafiadora. A política monetária do Federal Reserve e os riscos econômicos da região impactam diretamente o real, e o país parece estar pagando o preço por uma inflação persistente, acima das expectativas.
A boa notícia, se é que se pode chamar assim, é que o Brasil tem apresentado um crescimento econômico consistente. O PIB de 2024 foi revisado para 3,5%, e o crescimento do terceiro trimestre foi de 0,9%, impulsionado principalmente pela indústria e pelo consumo das famílias. A taxa de desocupação atingiu seu menor nível histórico, o que deveria ser motivo de celebração. No entanto, esses avanços são ofuscados pela inflação fora de controle, que continua a corroer o poder de compra da população.
O Banco Central, ciente da gravidade da situação, decidiu parar ainda mais o cerco ao elevar a Selic em 1 ponto percentual, para 12,25%. Esse movimento sinaliza que o BC está disposto a continuar ajustando a taxa de juros nas próximas reuniões, como tentativa de entusiasmo a inflação. Mas a questão é: essas ações serão suficientes para controlar uma inflação que parece se manter intransigente? As projeções para 2025 indicam uma desaceleração do PIB para apenas 2,1%, e os principais riscos específicos incluem a manutenção de núcleos inflacionários elevados, a depreciação cambial contínua e a volatilidade dos preços das commodities, afetadas por fatores geopolíticos e climáticos.
Além disso, o Banco Central anunciou uma mudança significativa no regime de metas de inflação. A partir de janeiro de 2025, a inflação será monitorada mês a mês, e o não cumprimento das metas será considerado uma falha se o índice ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos. A pergunta que fica é: com o cenário inflacionário atual e os desafios globais, o Brasil conseguirá atingir essas metas ou estará condenado a viver com a inflação acima do desejado por um longo período?
A mensagem do Banco Central é clara: a luta contra a inflação será longa e cheia de obstáculos. Mas os resultados dessa estratégia são, no mínimo, questionáveis.
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*Com informações Revista Oeste