O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu, a duras penas, a aprovação do pacote de revisão de gastos no Congresso Nacional, mas não sem custos significativos para sua imagem e articulação política. A aprovação das três propostas fiscais – o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 210/24, o Projeto de Lei (PL) nº 4.614/24 e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 45/2024 – representa um esforço colossal que expôs a fragilidade da base aliada e revelou as dificuldades que o Executivo tentou para conquistar o apoio dos parlamentares, especialmente na Câmara dos Deputados.
Desgaste e dificuldades na Câmara
O maior desafio foi a necessidade de conceber um número expressivo de deputados antes do recesso parlamentar, previsto para o dia 23 de dezembro. Nos bastidores, havia um consenso de que, se houvesse "vontade política", as propostas poderiam ser aprovadas com urgência, mas a resistência de líderes de grandes partidos como o União Brasil, de Elmar Nascimento, e o PSD, de Antonio Brito, dificultou a tramitação. Elmar chegou a afirmar que não havia “clima” para votar o pacote naquele momento, o que tornou o cenário ainda mais tenso. Apesar disso, as propostas foram aprovadas por uma margem apertada, com o PL sendo aprovado por apenas 260 votos – um número aproximado ao mínimo necessário de 257.
Fragmentação da base e as promessas de reforma ministerial
A fragilidade da base aliada é visível e reflete um governo que ainda tenta se ajustar internamente. A alocação de 39 ministros, com representantes de partidos como MDB, PSD, PP, Republicanos e União Brasil, foi uma tentativa de fortalecer as articulações políticas. No entanto, alguns desses aliados se sentiram desprestigiados, especialmente em relação à distribuição de massas secundárias. Isso gerou insatisfação dentro da base governamental, incluindo o próprio PT, que critica a falta de entrega de certos ministérios e a competição interna pelo espaço político.
Além disso, a articulação interna do governo também ocorreu com as chamadas “disputas internas” no PT, resultando em um ambiente político turbulento e fragmentado. A pressão por uma reforma ministerial já está em andamento, e alguns líderes partidários afirmam que somente uma mudança substancial no governo poderá restaurar a confiança e a governabilidade do Executivo. No entanto, o presidente Lula deixou claro que qualquer mudança na Esplanada dos Ministérios deverá ser tratada com cautela.
O problema da comunicação e o futuro incerto
Enquanto o governo tenta se reestruturar, uma das maiores críticas à gestão tem sido uma falha na comunicação com a população. O próprio presidente Lula revelou, no início de dezembro, que o governo falhou ao não transmitir sua mensagem de forma eficaz, resultando em uma queda nas pesquisas de opinião. A falta de articulação política na comunicação também contribui para o desgaste interno, com líderes questionando a eficácia das estratégias de marketing e da gestão do ministro Paulo Pimenta.
Neste cenário, a possível realocação de Pimenta e a entrada do marqueteiro Sidônio Palmeira, que auxiliou a campanha de Lula em 2022, poderia representar uma tentativa de reverter esse quadro. No entanto, mesmo com essas movimentações, a expectativa é que uma reforma ministerial ocorra apenas no primeiro semestre de 2025, em consonância com a mudança no comando do Congresso Nacional, com a saída de Rodrigo Pacheco e Arthur Lira das presidências do Senado e da Câmara .
Conclusão: Vitória com sabor amargo
Embora a aprovação do pacote fiscal tenha sido uma vitória política para o governo, ela não veio sem grandes custos. A resistência interna, as divisões entre aliados e o desgaste nas articulações revelam um cenário de instabilidade que coloca em execução a capacidade de Lula de comandar uma base coesa. Além disso, as insatisfações com a comunicação e a entrega de resultados podem prejudicar ainda mais a imagem do governo nos próximos meses, o que exige mudanças estruturais para evitar um colapso na governabilidade. O caminho para 2025 será marcado por um governo que precisa urgentemente fortalecer sua união interna e renovar sua estratégia política e comunicacional.
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*Com informações Metrópoles