A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), determinada por Alexandre de Moraes, marca mais do que um capítulo judicial: inaugura uma nova fase de perseguição política que já provoca fissuras profundas dentro da própria direita. O ex-mandatário, agora silenciado por proibição de contato, visitas e até telefone, torna-se um símbolo do que o governador Romeu Zema (Novo-MG) classificou como “a democracia do medo”.
Antes disso, até mesmo no PT, acreditava-se que a eventual prisão de Bolsonaro viria apenas após o julgamento do inquérito do STF sobre a suposta tentativa de golpe, o que daria tempo para uma articulação política. Mas a decisão de Moraes antecipou o cenário e tirou de cena aquele que era o maior articulador da direita no país — com impacto direto no jogo sucessório.
No Partido Liberal, o gesto é visto com indignação e também com preocupação. Sem Bolsonaro na linha de frente, a disputa por sua herança eleitoral se intensifica entre seus filhos — Eduardo e Flávio Bolsonaro — e a ex-primeira-dama Michelle. Enquanto isso, governadores próximos a ele, como Tarcísio de Freitas (SP), Ratinho Júnior (PR), Ronaldo Caiado (GO) e o próprio Zema, se veem pressionados a elevar o tom ou correm o risco de serem descartados pelos bolsonaristas mais fiéis.
A reação morna de Tarcísio, por exemplo, gerou desconforto entre aliados. Seu apoio a Bolsonaro não mencionou Moraes, algo considerado “tímido” diante da gravidade do momento. Ratinho seguiu linha parecida, sem confrontos com o STF, enquanto Caiado criticou o fato de Bolsonaro “já estar condenado”, mas também sem citar diretamente os ministros da Corte. Zema, por outro lado, foi direto: acusou o Supremo de impor uma democracia do silêncio, colocando Bolsonaro em prisão domiciliar “por ter sua voz ouvida nas redes”.
A ausência do ex-presidente também fragiliza a mediação interna do PL. Bolsonaro era a peça-chave para apaziguar disputas internas — como fez entre Eduardo Bolsonaro e Tarcísio após divergências sobre o tarifaço de Trump ao Brasil. Sem ele, os conflitos tendem a se acirrar.
A prisão de Bolsonaro, portanto, não é apenas um fato jurídico. É um movimento político, com efeitos devastadores para a coesão da direita e que reacende o debate sobre os limites da atuação do Supremo. Enquanto isso, a pergunta que ecoa entre aliados é: quem herdará o bolsonarismo — e com que legitimidade, em meio ao cerco que se fecha?
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*Com informações Metrópoles