Terça, 05 de Agosto de 2025

Congresso sob pressão: prisão de Bolsonaro, tarifaço de Trump e crise entre os Três Poderes inflamam retomada legislativa

Oposição exige reação a Moraes, aliados de Lula buscam blindagem, e Congresso se vê no epicentro de uma crise institucional, econômica e diplomática que já ameaça 2026

05/08/2025 às 09h41
Por: Tatiana Lemes
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Foto: Reprodução
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A volta do Congresso Nacional do recesso, nesta terça-feira (5), acontece sob um dos cenários mais tensos da política recente. A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, decretada na véspera pelo ministro Alexandre de Moraes, o tarifaço imposto por Donald Trump como retaliação à decisão do STF e a disputa aberta entre Legislativo e Judiciário transformaram a retomada dos trabalhos legislativos em um campo minado.

No Senado e na Câmara, os presidentes Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), respectivamente, enfrentam pressões que vão além das pautas orçamentárias ou administrativas. A oposição bolsonarista quer respostas duras: fala-se em anistia ampla a condenados, cassação de ministros do STF e, no Senado, impeachment direto de Moraes.

Liderado por Rogério Marinho (PL-RN), o grupo oposicionista já deixou claro que pretende colocar o julgamento de Moraes no centro da agenda até 2026. Mas a movimentação encontra resistência explícita na cúpula das Casas. Enquanto isso, o clima entre os Três Poderes se deteriora com a manutenção do aumento do IOF – derrubado pelo Congresso, mas restaurado por decisão do Supremo.

O recado de Moraes foi claro. A resposta de Trump, também. Agora, a bomba está no colo do Congresso.

Tarifaço de Trump e ameaça à economia

A retaliação econômica de Donald Trump à prisão de Bolsonaro gerou mais que ruído diplomático: as sanções tarifárias sobre produtos brasileiros começam a vigorar já nesta quarta-feira (6). O gesto é visto como um recado direto à atuação do STF – e, mais especificamente, de Moraes, já incluído na lista de sanções da Lei Magnitsky.

O movimento norte-americano forçou um armistício entre Lula e os presidentes da Câmara e do Senado. Até então, Alcolumbre e Motta vinham resistindo a pautas prioritárias do Planalto, mas o risco de prejuízos econômicos e o clamor em torno da “soberania nacional” empurraram até opositores para a defesa do Estado brasileiro em bloco.

O problema é que o discurso unificado é frágil: a oposição responsabiliza Lula pelo conflito internacional e vê no STF uma ameaça ao equilíbrio democrático. Já os governistas aproveitam o cenário para acelerar pautas como a nova tabela do Imposto de Renda — promessa de campanha de Lula — e tentar empurrar para as comissões os pedidos de cassação de Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli.

Crise institucional e guerra interna

Enquanto os ânimos esquentam entre os Poderes, a temperatura também sobe dentro do Congresso. A situação de Carla Zambelli — foragida e presa em Roma após condenação por invadir o sistema do CNJ — e de Eduardo Bolsonaro — ausente do Brasil e apontado como articulador da crise com Trump — gera desconforto até mesmo dentro do PL.

A cúpula da Câmara já estuda cassar Eduardo por faltas e espera que Zambelli seja derrotada em plenário. Hugo Motta, no entanto, deve adotar uma postura regimental para evitar desgaste político direto, repassando decisões às comissões.

Outro foco de tensão é a instalação da CPMI que investigará fraudes no INSS. A comissão pode trazer novos problemas para o governo, especialmente se ministros forem convocados. Para conter danos, a presidência deve ficar com Omar Aziz (PSD-AM), numa tentativa de equilibrar forças entre centrão e Planalto.

O impasse do IOF e a disputa pelo poder

A derrubada do decreto do IOF pelo Congresso e sua revalidação pelo STF serviu como estopim para a escalada da crise entre os Poderes. O gesto do Judiciário foi interpretado como afronta direta à autoridade do Legislativo. Agora, o Planalto tenta reconstruir pontes — com Lula e Fernando Haddad sinalizando que ouvirão o Congresso nas próximas medidas econômicas.

Enquanto isso, as nomeações para agências reguladoras, tribunais e o CNJ seguem travadas, refletindo o impasse político e as disputas internas entre Alcolumbre e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Um Congresso em xeque

No centro da tempestade, o Congresso terá de decidir, nas próximas semanas, se seguirá como palco de guerra ou tentará mediar os conflitos que se avolumam. A prisão de Bolsonaro, a tensão com os EUA e o acirramento interno mostram que o 2º semestre começa sob risco de implosão institucional.

O que está em jogo não é apenas a pauta de votações, mas o equilíbrio entre os Poderes, o futuro eleitoral de 2026 — e a estabilidade econômica de um país prestes a ser atingido por uma crise de múltiplas frentes.

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*Com informações Metrópoles

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