Depois de quase dois dias ocupando o plenário da Câmara dos Deputados, a oposição finalmente encerrou, na noite de quarta-feira (6), a obstrução que travava os trabalhos do Congresso desde o início da semana. Com a pauta liberada, a Câmara aprovou, na quinta-feira (7), a medida provisória que prevê pagamentos extras a servidores do INSS, enquanto o Senado retomou as votações.
O movimento, liderado por deputados de partidos como PL, Novo e Republicanos, marcou o Parlamento com protestos simbólicos, incluindo o uso de esparadrapos na boca, em reação à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
As principais reivindicações da oposição foram a anistia geral aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, o impeachment de Moraes e o fim do foro privilegiado. Embora não tenha conquistado todas as demandas, o grupo conseguiu o compromisso de líderes do centrão para pautar, na próxima semana, a PEC que extingue o foro privilegiado.
Especialistas alertam, no entanto, que o fim da paralisação não representa a superação da crise. O cientista político André César aponta que a oposição mostrou disposição para usar todas as ferramentas regimentais para impor sua agenda, revelando fragilidade na articulação política do governo e inaugurando uma fase de alta tensão.
O professor de direito Nauê Bernardo Pinheiro destaca que a polarização aumentará, complicando a condução política do presidente da Câmara, Hugo Motta, que encara seu maior desafio até aqui. A instabilidade permanece, sobretudo com a promessa de pautar temas sensíveis que podem desafiar a base governista.
O conflito entre Congresso e Judiciário deve continuar, impactando diretamente as negociações legislativas. Conforme César, o STF busca respostas técnicas, mas a pressão política cresce, mantendo o clima tenso entre os Poderes.
Segundo Pinheiro, o futuro do movimento dependerá da percepção pública: se a sociedade rejeitar as reivindicações da oposição, o protesto pode se isolar; porém, se aumentar o desgaste do Judiciário, especialmente do STF, a pressão poderá se intensificar ainda mais nos próximos dias.
*Com informações R7