Quinta, 16 de Outubro de 2025

Tarifa zero de Lula: promessa milionária que não tira carros das ruas

Estudos mostram que passe livre não reduz trânsito, gera custos bilionários e pode aumentar insegurança nos ônibus

16/10/2025 às 11h33
Por: Tatiana Lemes
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Foto: Reprodução
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O plano de tarifa zero no transporte coletivo apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), considerado parte do “kit reeleição” para 2026, enfrenta críticas severas de especialistas e estudiosos do transporte público. A proposta, que poderia custar R$ 90 bilhões por ano, apresenta resultados questionáveis e riscos práticos que indicam ser mais uma medida populista do que uma política eficiente.

Pesquisas realizadas pelo Ipea, USP e universidades federais da Bahia e Pernambuco revelam que a gratuidade não leva os cidadãos a abandonar o carro. O estudo, focado em idosos, analisou 11 regiões metropolitanas de 1997 a 2019 e constatou que, embora as viagens de ônibus tenham aumentado 7,1%, as caminhadas caíram 8,2%. Ou seja, trajetos curtos que antes eram feitos a pé passaram a ser feitos de ônibus, mas trajetos de carro permaneceram intactos.

Para o professor Renato Schwambach Vieira (USP), a pesquisa derruba a principal justificativa do movimento Tarifa Zero: reduzir congestionamentos e poluição. “A ideia de que a gratuidade faria as pessoas largarem o carro simplesmente não se confirma”, afirma Vieira, destacando que estudos internacionais apontam o mesmo comportamento em outras faixas etárias.

Além do alto custo, o modelo de passe livre universal levanta preocupações quanto à segurança e manutenção dos ônibus. Experiências nos Estados Unidos indicam aumento da presença de usuários de drogas, moradores de rua e criminalidade em veículos gratuitos. Cidades como Kansas City e Raleigh abandonaram o programa após problemas de ordem social e financeira.

Especialistas também apontam problemas estruturais do modelo: financiamento deficitário, falta de transparência na prestação de contas das empresas de transporte e a necessidade de definir claramente quem realmente terá direito ao benefício. Segundo Rafael Pereira (Ipea), concentrar o subsídio apenas em famílias de baixa renda seria mais viável, enquanto a gratuidade universal serve mais como instrumento de marketing político do que solução concreta.

O professor Luis André Fumagalli (PUC-PR) reforça que alternativas mais eficazes, como tarifas proporcionais ao percurso, trariam benefícios reais sem sobrecarregar os cofres públicos. Já Vieira compara a tarifa zero a uma rodovia gratuita, mas esburacada: “Não adianta oferecer transporte grátis se o serviço é precário, inseguro e ineficiente. Melhor investir em ônibus de qualidade, linhas adequadas e maior frequência”.

A proposta de passe livre mostra-se uma promessa cara e ineficaz, que dificilmente terá impacto positivo na mobilidade urbana. Mais que um incentivo ao transporte público, corre o risco de se transformar em um gasto bilionário sem retorno prático, com consequências negativas para segurança e qualidade do serviço.

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*Com informações Gazeta do Povo

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