
A recondução de Paulo Gonet ao comando da Procuradoria-Geral da República (PGR) evidenciou mais uma vez a fragilidade do Senado Federal diante do avanço do ativismo judicial no país. Apesar das denúncias e alertas vindos da oposição, a Casa confirmou o nome do procurador, sinalizando que qualquer tentativa de frear os excessos de poder por parte de setores do Judiciário dificilmente prosperará.
Parlamentares da oposição, entre eles o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foram incisivos ao apontar a postura parcial de Gonet à frente da instituição, sobretudo em temas sensíveis que envolvem a perseguição a adversários políticos e a complacência diante de abusos cometidos por ministros do Supremo Tribunal Federal. Ainda assim, o Senado, que constitucionalmente deveria exercer o papel de freio e contrapeso, optou pela continuidade, consolidando uma imagem de omissão e alinhamento tácito ao status quo.
A decisão, vista por muitos analistas políticos como um gesto de capitulação, reforça a percepção de que o Senado tem se distanciado de sua missão histórica de zelar pelo equilíbrio entre os Poderes. Em vez de funcionar como uma instância de contenção e defesa das liberdades democráticas, a Casa Alta se mostra cada vez mais submetida a pressões e interesses políticos que a impedem de agir com independência.
Nos bastidores, a avaliação é de que prevaleceu o medo de enfrentamento com o Supremo e a busca por preservar espaços e privilégios políticos. O resultado é um Senado que aparenta não representar mais a voz de boa parte da sociedade, que clama por limites à atuação judicial e por um Ministério Público realmente isento e comprometido com o princípio da legalidade.
A recondução de Gonet, portanto, vai além de uma simples nomeação: simboliza a confirmação de um pacto tácito de conveniências, no qual a oposição é isolada, a crítica é silenciada e o equilíbrio entre os Poderes se torna cada vez mais frágil. O Senado, que deveria ser a trincheira da República, parece preferir a comodidade da omissão ao custo da própria autoridade.