
O ambiente político em Brasília amanheceu tenso nesta terça-feira. Após dias de pressão intensa do governo federal para tentar adiar ou esvaziar o Projeto de Lei Antifacção, tudo indica que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), caminha na direção oposta: deve colocar o texto em votação ainda hoje. Aliados próximos ao comando da Casa afirmam que todos os movimentos de Motta nas últimas horas apontam para uma decisão já tomada. Ele manteve reuniões reservadas com líderes partidários, conversou com o relator Guilherme Derrite e fez chegar ao governo o recado de que não pretende recuar.
Para integrantes da Mesa Diretora, o presidente quer fazer valer a autonomia da Câmara e mostrar que a segurança pública não ficará refém da hesitação do Executivo. O governo, por sua vez, atua de forma intensa para segurar a votação. O Ministério da Justiça tem sido o principal foco de resistência, classificando trechos do projeto como arriscados e alegando que o texto pode gerar “insegurança jurídica” e conflitos com a Polícia Federal. Integrantes do Executivo insistem que o debate não está maduro e pedem mais tempo para ajustes, o que Motta interpretou como tentativa de protelar indefinidamente. Governadores de diferentes estados também reforçaram, na véspera, a pressão por um novo adiamento, argumentando que o PL exige harmonização com políticas estaduais de combate ao crime organizado. Mas, segundo interlocutores do presidente da Câmara, a percepção é de que a discussão já avançou o suficiente e que a sociedade cobra uma resposta concreta do Parlamento. Hugo Motta, em declarações recentes, reforçou seu apoio ao relatório de Derrite, afirmando que o texto “mantém avanços importantes”, endurece o combate às facções e preserva as prerrogativas da Polícia Federal. Também tem defendido que a instituição deve ser tratada como órgão de Estado, e não de governo, em uma reação direta aos sinais de ingerência política.
Ao que tudo indica, a sessão desta terça será palco de uma das maiores disputas entre Executivo e Legislativo neste ano. A votação — se confirmada — colocará em evidência o peso político de Motta, que se consolida como uma das lideranças mais firmes diante de pressões do governo. Nos bastidores, deputados afirmam que qualquer recuo agora seria visto como sinal de fraqueza institucional.
Com a Câmara mobilizada e o governo atuando para tentar esvaziar o clima favorável à votação, o dia promete ser decisivo. Caso leve o PL Antifacção ao plenário ainda hoje, Hugo Motta não apenas desafia o Executivo, mas também marca uma virada de protagonismo no debate sobre segurança pública e combate ao crime organizado.