
A crise entre Estados Unidos e Venezuela registrou um dos momentos mais sensíveis deste domingo, 23 de novembro. A divulgação, pela FAA, de um alerta de risco para aeronaves civis no espaço aéreo venezuelano provocou uma sequência imediata de cancelamentos de voos e lançou um sinal claro de que a tensão já ultrapassou o campo da retórica política e alcançou operações práticas de segurança.
No Caribe, a movimentação militar norte-americana reforçou o clima de vigilância. Unidades navais de grande porte, incluindo um porta-aviões e navios de apoio, circulam em posição considerada estratégica por analistas. Embora o Pentágono não confirme manobras ofensivas, especialistas consultados afirmam que “a postura atual é típica de estágios de pré-operação, quando se testa resposta, logística e comunicações”.
Um oficial de defesa que falou sob condição de anonimato descreveu a situação como “um jogo calculado de pressão progressiva”. Segundo ele, Washington trabalha com “várias opções sobre a mesa, todas não confirmadas”, que vão desde medidas diplomáticas ampliadas até ações psicológicas destinadas a desarticular o núcleo do chavismo.
Entre essas ações, ganha força a hipótese de distribuição aérea de folhetos em Caracas, algo que fontes de inteligência classificam como “uma operação de intensidade moderada, mas de alto impacto simbólico”. O objetivo seria influenciar militares intermediários e advertir membros do governo sobre possíveis perdas estratégicas caso mantenham apoio irrestrito a Nicolás Maduro.
“Folhetos não derrubam regimes, mas derrubam moral”, afirmou um especialista em guerra de informação ouvido pela reportagem. “Se isso ocorrer, é porque os EUA querem testar o nível de fragmentação interna do sistema de poder em Caracas.”
Dentro da Venezuela, a movimentação política também se intensificou. Setores opositores discutem discretamente novas articulações caso a pressão internacional avance para níveis mais críticos. Embora líderes mais conhecidos tenham adotado postura mais cautelosa, temendo que manifestações espontâneas sejam interpretadas como colaboração com uma operação estrangeira, um assessor de oposição disse: “A pressão externa abriu brechas. Ninguém admite isso publicamente, mas há conversas acontecendo”.
O governo Maduro, por outro lado, elevou o tom. Militares venezuelanos têm reportado reforços em áreas costeiras e em instalações estratégicas, numa tentativa de demonstrar prontidão diante da presença americana. “A Venezuela encara isso como uma provocação direta. Não há disposição para recuar”, comentou um analista sul-americano especializado em defesa.
A preocupação se espalhou pelos países vizinhos. O governo brasileiro, segundo fontes diplomáticas, acompanha a situação com “alerta máximo”, temendo que qualquer avanço militar dos EUA desencadeie uma crise regional ainda maior. Diplomatas brasileiros tentam contato com Washington para compreender até onde vai a escalada e qual o papel do Brasil como mediador.
A soma dos fatores — alerta aéreo, movimentação naval, estudos de operações psicológicas e reações políticas internas — criou, neste fim de semana, a atmosfera mais tensa dos últimos meses. E, embora não haja sinais de uma decisão final sobre uma intervenção militar direta, a sensação entre observadores internacionais é de que a linha entre pressão estratégica e operação ativa está cada vez mais tênue.
“Estamos a um erro de cálculo de distância de uma crise histórica”, resumiu um pesquisador especializado em geopolítica latino-americana. “E, quando muitos atores se movem ao mesmo tempo, o risco não é apenas o que cada um faz, mas o que cada um interpreta.”