
Mais da metade dos estudantes brasileiros desiste da graduação antes de chegar ao diploma. O dado, revelado pelo Mapa do Ensino Superior no Brasil, acende um alerta sobre a forma como os jovens escolhem suas carreiras. Em meio à pressão dos vestibulares e à correria do Ensino Médio, muitos tomam decisões sem tempo para refletir sobre propósito, vocação ou o que realmente os motiva.
É por isso que especialistas defendem que o debate sobre futuro e profissão comece bem antes: quando ainda há espaço para experimentar, errar, ajustar e descobrir caminhos de forma consciente. A antecipação desse processo, segundo Matheus Louback, Coordenador de Inovações Pedagógicas do Grupo Salta Educação, contribui para que os jovens desenvolvam clareza sobre suas aptidões, interesses e objetivos de vida.
“Quanto mais cedo os alunos se engajarem nesse processo de reflexão, mais preparados estarão para tomar decisões conscientes sobre o futuro”, explica. A falta de planejamento e autoconhecimento está diretamente ligada à alta taxa de desistência universitária observada em todo o país.
Entre vocação, mercado e influência familiar
Ainda que a vocação pessoal siga como o principal fator de decisão, representando 35% das escolhas, de acordo com a pesquisa “Decisões e influências na qualificação profissional”, do Grupo Globo, a influência familiar permanece significativa. Por isso, os especialistas defendem a importância de uma formação que estimule a autonomia do estudante e o ajude a equilibrar vocação, empregabilidade e realização pessoal. “Ninguém quer trabalhar em algo que o faça infeliz, mas é importante avaliar também as perspectivas de mercado a longo prazo”, destaca Matheus.
Nesse contexto, a escola ocupa papel essencial como mediadora do processo de autoconhecimento. “Nas escolas do Grupo Salta Educação, por exemplo, iniciativas como a Trilhas de Carreiras e o EAI (Ecossistema de Aprendizagem Inovador) aproximam os alunos das possibilidades do futuro profissional desde cedo. No EAI, os estudantes escolhem disciplinas eletivas, com temas que vão de programação e educação financeira a gastronomia e criação de games. Já a Trilhas de Carreiras promove discussões e exercícios sobre diferentes profissões, ajudando cada aluno a reconhecer interesses, desenvolver habilidades e fazer escolhas mais conscientes para o seu projeto de vida. Esses espaços permitem que os alunos explorem campos diversos e compreendam, na prática, o que cada profissão envolve”, menciona o coordenador.
A importância da vivência prática
Experiências vivenciais, como projetos, oficinas, programas de jovem aprendiz e visitas técnicas, também têm se mostrado fundamentais nesse processo. Elas permitem que o jovem experimente de perto o cotidiano das profissões e avalie, com base em vivências reais, se a área escolhida corresponde às suas expectativas. “O vestibular é apenas a porta de entrada; a jornada mais longa começa depois. Tomar uma decisão sem compreender as dinâmicas do mercado ou as exigências da profissão pode gerar arrependimentos no futuro”, observa Matheus.
Além de preparar os alunos para o ingresso na universidade, essas experiências fortalecem competências cada vez mais valorizadas no mercado, como a adaptabilidade e o domínio tecnológico, especialmente no contexto da inteligência artificial. Programas de letramento em IA, como o Dia Lab, também desenvolvido pelo grupo, buscam inserir os estudantes nesse novo cenário, incentivando-os a usar as ferramentas digitais de forma crítica, criativa e preservando a autoria.
Apoio emocional e familiar
A pressão por decidir cedo e a competitividade dos processos seletivos ainda geram ansiedade entre os jovens. Nesse sentido, o acompanhamento emocional e o apoio familiar tornam-se aliados importantes. “Os pais e responsáveis podem estar lado a lado e oferecer um ambiente seguro para que o estudante explore suas próprias inclinações”, afirma. Estimular a participação em atividades extracurriculares e valorizar a autonomia são atitudes que contribuem para decisões mais equilibradas.
Ao adotar trilhas formativas voltadas para a descoberta de propósito e o desenvolvimento de competências, escolas ajudam a ressignificar o papel do Ensino Médio. Em vez de ser um período de pura pressão por resultados, essa etapa passa a ser vista como um espaço de autoconhecimento, experimentação e preparação para um futuro que vai muito além do vestibular.