As remessas de cocaína transportadas pelos policiais civis Hugo César Benites e Anderson César dos Santos Gomes, de Ponta Porã para Campo Grande, eram desviadas de apreensões realizadas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) e pela Polícia Civil. Cada agente recebia cerca de R$ 80 mil por cada entrega do entorpecente.
Hugo César Benites estava no Paraguai quando a Operação Snow foi deflagrada em 26 de março deste ano. Para evitar sua extradição, o investigador se entregou às autoridades paraguaias. Anderson César já estava detido após ser flagrado transportando cocaína para o grupo, que, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), é altamente organizado e possui uma logística sofisticada, com divisão clara de tarefas.
As investigações revelaram que durante uma incineração de drogas realizada em Dourados nos dias 3 e 4 de maio de 2023, parte da cocaína apreendida pela Defron (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Fronteira) foi desviada. O invólucro da cocaína incinerada coincidia com aquele que os policiais civis descarregaram em uma residência no Jardim Pênfigo, em Campo Grande, também em 4 de maio.
No mesmo dia, a viatura de Ponta Porã, com os policiais a bordo, foi registrada passando pelo posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Dourados às 3h08 e em Sidrolândia às 6h26. Após descarregar a droga em Campo Grande, os policiais seguiram de volta, retornando a Ponta Porã por volta das 18h17.
Agentes do Batalhão de Choque se dirigiram à residência na Rua Retiro Novo, porém, uma parte da quadrilha já havia deixado o local levando a carga de cocaína, que foi carregada em um veículo Ford Fiesta vermelho. Os policiais que foram cooptados pela organização criminosa receberam um total de R$ 960 mil ao longo de 21 meses de colaboração com o grupo, o equivalente a R$ 480 mil para cada um. Por cada transporte realizado, eles recebiam a quantia de R$ 80 mil.
Padrão de vida x renda
Conforme a denúncia do Gaeco, Anderson César dos Santos possui um patrimônio milionário que não condiz com sua renda. Como investigador de 1º classe, ele recebe aproximadamente R$ 9 mil mensais. No entanto, segundo o Gaeco, o policial possui uma residência em um bairro nobre de Ponta Porã, avaliada em cerca de R$ 2 milhões, além de uma caminhonete Amarok com valor estimado em R$ 160 mil.
A esposa de Anderson, que é professora na rede estadual, recebe em torno de R$ 2 mil por mês, mas possui um Jeep Compass avaliado em R$ 246 mil. O casal ainda tem uma filha, também professora na rede estadual, que possui dois veículos registrados em seu nome, totalizando R$ 108 mil em valor.
No final de 2022, o policial foi denunciado pela Polícia Federal devido ao seu patrimônio incompatível com a sua renda. Conforme destacado em um trecho da denúncia, eles "possuem um padrão de vida, a princípio, incompatível com a renda lícita por eles recebida", acrescentando que existem "indícios de incompatibilidade dos rendimentos lícitos auferidos pelo policial Anderson". Já em setembro de 2023, Anderson havia sido preso com uma carga de cocaína avaliada em R$ 40 milhões.
Campo Grande armazenava droga
A organização criminosa utilizava Campo Grande como ponto de armazenamento da cocaína, que posteriormente era distribuída para outros estados. A droga era ocultada em residências nos bairros Tijuca, Coophavila e Jardim Pênfigo. O líder do grupo era Joesley da Rosa, que controlava duas empresas usadas para lavar o dinheiro proveniente do tráfico de drogas que saía de Campo Grande com destino a São Paulo.
Logo abaixo de Joesley estava Valdemar Kerkhoff Júnior, que foi executado a tiros, juntamente com seu irmão Eder Kerkhoff, em 27 de junho de 2023, em um suposto "acerto de contas". Na hierarquia da organização, seguia Douglas Santander, conhecido como "Dodô", detido pelo assassinato de Cristian Alcides Ramires, também conhecido como "Galo".
Na estrutura hierárquica abaixo de Douglas estão Mayk Rodrigues, seguido por Eric Marques, Paulo César e os policiais civis Anderson César e Hugo Benites.
Operação Snow
A operação foi lançada contra uma organização criminosa envolvida no tráfico de cocaína que recrutava policiais para facilitar o transporte da droga. Os policiais usavam viaturas oficiais para realizar o transporte, em um esquema conhecido como “frete seguro”. Nesse método, a cocaína era transportada em viaturas caracterizadas, evitando paradas ou fiscalizações por outras unidades de segurança pública.
Além disso, o grupo ocultava a droga em meio a cargas lícitas, tornando a fiscalização policial nas rodovias mais difícil, especialmente quando a droga era transportada junto a cargas refrigeradas ou congeladas, já que os compartimentos dos caminhões frigoríficos permaneciam lacrados durante o trajeto.
O grupo transferia a propriedade de caminhões entre empresas associadas e os motoristas, visando chamar menos atenção em possíveis fiscalizações policiais. O Gaeco também revelou que foi possível identificar mais duas toneladas de cocaína pertencentes à organização criminosa, as quais foram apreendidas em ações policiais.
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*Com informações Midiamax