Quinta, 21 de Novembro de 2024
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Tráfico de cocaína: grupo com policiais de MS executava 3 por queima de arquivo’

As execuções eram realizadas como "queima de arquivo" sempre que algum integrante da quadrilha sofria perdas de cargas de cocaína

16/04/2024 às 09h03
Por: Tatiana Lemes
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Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

O grupo especializado em tráfico de cocaína de Mato Grosso do Sul para outros estados, contando com policiais civis de Ponta Porã para garantir o transporte seguro, foi responsável por no mínimo três assassinatos. Segundo denúncia do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), as execuções eram realizadas como "queima de arquivo" sempre que algum integrante da quadrilha sofria perdas de cargas de cocaína.

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Cristian Alcides Ramires Valiente, apelidado de Galo, foi morto em 22 de outubro de 2022 depois de perder uma carga de 435 quilos de cocaína, cujo valor total estimado era de aproximadamente R$ 10,8 milhões, considerando o preço médio de venda de R$ 25 mil o quilo nas principais cidades do país.

Douglas Lima, conhecido como Dodo e responsável pela intermediação dos fretes para a quadrilha, foi detido pelo assassinato de Cristian, ocorrido na Rua Barra Mansa, no Guanandi.

A ordem para eliminar Cristian partiu de Valdemar Kerkoff, um membro influente na alta hierarquia da organização criminosa. Valdemar, junto com seu irmão Eder, foi posteriormente executado cerca de 8 meses depois em um lava-jato em Ponta Porã.

A organização criminosa empregava empresas de distribuição de bebidas, telecomunicações e transporte para facilitar o transporte da droga em caminhões. Além disso, em algumas ocasiões, utilizava viaturas da Polícia Civil, que estavam sob os cuidados dos policiais Hugo César Benites e Anderson César. Esses policiais, lotados na 1ª Delegacia de Ponta Porã, chegaram a receber até R$ 80 mil por transporte de cocaína.

Em setembro de 2023, uma carga de 500 quilos de cocaína foi interceptada. O investigador Anderson César foi detido no ano anterior enquanto transportava drogas para a organização criminosa. No mês seguinte, em 5 de outubro de 2023, uma tonelada de maconha foi descoberta em meio a uma carga de carne, resultando na prisão de Fernando Henrique.

Joesley da Rosa, o líder da organização, residia em um condomínio de alto padrão em São Paulo. Em março deste ano, durante a deflagração da Operação Snow, 21 indivíduos foram detidos.

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A residência de Joesley está situada no condomínio Acapulco, no Guarujá, onde as propriedades são comercializadas entre R$ 3 milhões e R$ 12 milhões. Joesley possui duas empresas em Campo Grande, que são utilizadas para a "lavagem" das drogas enviadas para outros estados. A organização, com uma estrutura bem definida e divisão de tarefas, acabou por enfrentar a perda de cargas de drogas, resultando em alguns membros sendo alvo de assassinatos.

Durante uma das viagens dos dois policiais, as câmeras de segurança registraram a entrada da viatura na garagem da residência, seguida pela descarga de fardos pretos contendo drogas. Nas filmagens, Valdemar Kerkof é visto auxiliando a dupla de policiais no descarregamento da viagem, inclusive olhando para as câmeras de segurança da residência.

O veículo utilizado pelos policiais é de propriedade da 1ª Delegacia de Ponta Porã. De acordo com as imagens, os policiais chegaram à residência em 4 de maio de 2023 e retiraram cerca de 10 caixas de drogas da viagem. A casa utilizada pela quadrilha era alugada para festas e eventos.

Padrão de vida

Conforme denúncia do Gaeco, Anderson possui um patrimônio milionário incompatível com sua renda. Anderson César dos Santos, investigador de 1ª turma, recebe aproximadamente R$ 9 mil de remunerados. Segundo o Gaeco, o policial possui uma residência em um bairro específico de Ponta Porã, avaliada em cerca de R$ 2 milhões, além de uma caminhonete Amarok avaliado em R$ 160 mil.

A esposa do policial é professora na rede estadual da cidade, recebeu cerca de R$ 2 mil, porém possui um Jeep Compass avaliado em R$ 246 mil. Além disso, o casal tem uma filha, também professora convocada na rede estadual, que possui dois veículos registrados em seu nome, totalizando R$ 108 mil.

No final de 2022, o policial foi alvo de uma denúncia pela Polícia Federal devido ao seu patrimônio incompatível com sua renda. Segundo trechos da denúncia, eles “possuem um padrão de vida, a princípio, incompatível com a renda lícita que recebe”, destacando ainda “indícios de incompatibilidade dos rendimentos lícitos do policial Anderson”. Vale ressaltar que Anderson já havia sido detido em setembro de 2023 com uma carga de cocaína avaliada em R$ 40 milhões.

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