O Brasil amanheceu em alerta máximo com o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que entra em vigor em 1º de agosto e eleva as alíquotas de importação de produtos brasileiros para até 50%. A medida já provoca reações imediatas: empresas estão cortando a produção voltada ao mercado americano, enquanto o governo assiste, impotente, ao enfraquecimento de uma das principais rotas comerciais do país.
Enquanto Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Japão e até a União Europeia conseguiram negociar reduções tarifárias com Washington, o Brasil ficou de fora. Foi a exceção entre os grandes parceiros comerciais dos EUA — reflexo direto do isolamento do país no comércio internacional. “Estamos entre as economias mais fechadas do mundo”, dispara Simão Davi Silber, professor da USP. “Só perdemos para países em guerra ou regimes autoritários.”
Segundo o Banco Mundial, as importações brasileiras representam apenas 15,7% do PIB — a sexta menor taxa global entre 189 nações. Essa baixa integração global deixa o país vulnerável a choques como o atual. Sem alternativas comerciais sólidas, o impacto do tarifaço deve ser profundo e duradouro.
Além das tarifas elevadas, as barreiras não tarifárias completam o cerco. Um estudo do banco BTG Pactual aponta que 86,4% das importações no Brasil enfrentam obstáculos como exigências sanitárias, certificações específicas e licenças de importação — um índice superior até ao dos Estados Unidos, famosos por sua regulação rígida.
O episódio reacende o debate sobre o protecionismo histórico brasileiro, que desde os anos 1950 aposta em substituir importações e blindar a indústria nacional. O resultado, segundo analistas, é uma estrutura produtiva pouco eficiente, cara e distante das inovações globais.
“Falta produtividade, falta inserção, falta visão”, resume Lívio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). Ele defende uma abertura gradual, com foco na competitividade real. “Seguimos sustentando setores ineficientes com subsídios e reserva de mercado. O mundo seguiu outro caminho.”
Países asiáticos como Coreia do Sul e Taiwan, que também adotaram políticas protecionistas no passado, viraram o jogo. Ao abrir suas economias, investir em educação e integrar-se ao comércio global, alcançaram posições de destaque no mercado internacional — o oposto do que se vê no Brasil, que responde hoje por menos de 1% das exportações mundiais.
O agronegócio e a indústria de manufaturados, principais afetados pela medida americana, já sentem os efeitos. A estrutura de exportação brasileira para os EUA é altamente dependente de cadeias produtivas específicas, o que dificulta a migração imediata para outros mercados. “Não se transfere um cliente como os EUA para a Europa ou para a China da noite para o dia”, alerta Ribeiro.
A reação do governo brasileiro, até agora, tem sido tímida. Há rumores sobre linhas emergenciais de crédito para os setores atingidos, mas especialistas alertam: são paliativos. “É mais uma política vertical, para setores específicos, sem alterar a lógica estrutural da nossa economia”, critica o economista.
Apesar do golpe, o tarifaço poderia ser um gatilho para que o país finalmente adote uma agenda de inserção internacional. “Poderia ser o estopim para destravar acordos como o Mercosul-União Europeia”, aponta Sílvio Campos Neto, economista da Tendências. Mas ele reconhece: a chance é pequena diante do histórico e da atual postura do governo.
Silber é ainda mais direto. “Essa gestão não vai fazer isso. O PT nunca priorizou a integração internacional. É uma visão nacionalista, protecionista. Vamos ter que esperar outro governo.”
Com o tarifaço já batendo à porta, a urgência por uma mudança de rota nunca foi tão evidente. Mas, como alertam os economistas, o desafio não é só técnico — é político, ideológico e estrutural. E, enquanto o mundo acelera, o Brasil segue parado no tempo.
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*Com informações Gazeta do Povo