Quinta, 06 de Novembro de 2025

PT tenta conquistar os evangélicos para 2026: Estratégia eleitoral ou artimanha eleitoral?

A aproximação do PT com o eleitorado evangélico revela uma tentativa desesperada de emular a direita, mas a falta de autenticidade e conexão genuína pode ser fatal nas eleições de 2026

06/11/2024 às 11h48
Por: Tatiana Lemes
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Foto: Divulgação/PT
Foto: Divulgação/PT

A recente tentativa do PT de se aproximar do eleitorado evangélico revelou-se uma manobra estratégica para contornar a popularidade do bolsonarismo, mas expôs, também, o distanciamento ideológico e a falta de autenticidade do partido ao lidar com a religião. A candidatura de Lúdio Cabral a prefeito de Cuiabá e a vitória de Evandro Leitão em Fortaleza marcaram o ápice de uma tentativa de reconquistar a confiança de um público que sempre foi desrespeitado e até desprezado pelo partido: os evangélicos.

Incorporando termos como "Deus", "fé" e até rezando Pai-Nosso em seus eventos, o PT tenta se vender como amigo da religião. Lúdio Cabral, por exemplo, encerrou sua campanha com uma oração de agradecimento aos eleitores. "Sou cristão, voto Lúdio", proclamaram carros adesivados pela cidade, como se uma expressão de fé pudesse apagar anos de desconfiança gerada pelas ações do próprio partido e seu histórico de apoio à agendas que desagradam o público religioso.

Apesar de algumas vitórias simbólicas, como o desempenho surpreendente em Cuiabá, o resultado das urnas revelou a fragilidade dessa aproximação. Mesmo com a adesão da campanha "Cristãos com Lúdio", 12% dos eleitores que haviam votado em Jair Bolsonaro em 2022 escolheram o petista, uma porcentagem considerada crucial, mas que não garante uma mudança sólida no cenário político. Para o PT, é um sinal de que a estratégia de "abraçar" a fé evangélica pode ser um caminho a seguir, mas as reações em Fortaleza evidenciam que a falsa retórica religiosa não se traduz em apoio fiel.

Em Fortaleza, a disputa se mostrou mais difícil para o PT, que, mesmo celebrando a vitória de Evandro Leitão com uma oração, não conseguiu capturar o voto evangélico de forma eficaz. O desempenho de Leitão junto a esse eleitorado foi abaixo do esperado, com apenas 27% do apoio evangélico, um número inferior ao que Lula obteve nas eleições de 2022. Isso reflete, em grande parte, a falta de conexão genuína entre o PT e os valores da comunidade evangélica, além de uma clara tentativa de imitar a estratégia bolsonarista de fazer uso da religião para fins eleitorais.

E a hipocrisia não se limita apenas aos gestos. O ministro da Educação, Camilo Santana, que deveria representar a esquerda no Ceará, tentou se aproximar dos evangélicos em um gesto desastroso ao se ajoelhar e orar um Pai-Nosso. Ao fazer isso, imitou práticas de líderes bolsonaristas como André Fernandes, do PL, que promovem rituais religiosos com o único objetivo de se alinharem à base conservadora. Para os evangélicos, a diferença entre um gesto genuíno e uma jogada eleitoral é clara. Ao se alinhar com o "padrão religioso" de suas campanhas, o PT revela que sua aproximação com os evangélicos é, na verdade, uma questão de conveniência política, sem a substância que os cristãos realmente buscam em seus representantes.

A verdade é que os evangélicos e católicos, com sua visão tradicionalista de família e fé, sempre tiveram dificuldades em aceitar as propostas progressistas do PT. O partido pode até tentar modificar seu discurso e seus gestos, mas a confiança do eleitorado religioso, que já se viu alheio à agenda petista por tantas vezes, não se conquista apenas com palavras e orações forçadas. O jogo de imitar a direita não trará os frutos desejados – não para quem vê nas ações de um político mais do que meras promessas eleitorais.

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*Com informações UOL

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