A recente atitude do Supremo Tribunal Federal (STF) de enviar recados velados a governadores que participaram das manifestações pró-anistia lideradas por Jair Bolsonaro revela uma face preocupante de autoritarismo. Os ministros consideraram "contraditório" que governadores, ao mesmo tempo em que se aproximam da Corte para buscar decisões favoráveis, participem de atos críticos ao STF.
Entre os alvos das críticas estavam sete governadores presentes na Avenida Paulista: Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO), Mauro Mendes (MT), Wilson Lima (AM), Jorginho Mello (SC) e Ratinho Júnior (PR). A presença maciça, maior do que no ato anterior no Rio de Janeiro, foi suficiente para acender os ânimos nos bastidores da Corte.
A tentativa de cercear a liberdade de expressão dos governadores levanta uma questão essencial: o STF ainda atua como guardião da Constituição, ou tornou-se um agente político interessado em silenciar dissidências? Governadores têm o direito de participar de atos políticos, independentemente de suas críticas ou alinhamentos ideológicos.
A justificativa dos ministros, de que os governadores estariam "mirando" o eleitorado de Bolsonaro ou preparando terreno para 2026, não se sustenta em uma democracia saudável. É papel das lideranças eleitas se conectarem com seus eleitores — e não cabe ao STF determinar os limites dessas interações.
Curiosamente, a Corte que acusa governadores de contradição parece ignorar suas próprias inconsistências. O mesmo STF que tem promovido um discurso de pluralidade e tolerância adota uma postura hostil ao diálogo quando confrontado. Essa dissonância mina a credibilidade do Judiciário e acirra o clima de desconfiança nas instituições.
Se ministros do STF sentem-se à vontade para ameaçar representantes eleitos por comparecerem a manifestações, qual será o próximo passo? A tentativa de controlar a narrativa política e intimidar opositores apenas fortalece o argumento de que o Judiciário brasileiro atravessa uma crise de isenção.
Em vez de contribuir para um debate democrático e plural, o STF corre o risco de consolidar uma imagem de tribunal político, disposto a agir em benefício de interesses próprios e avesso à crítica.
Esta postura não apenas ameaça a relação entre poderes, mas também envia um sinal claro à sociedade: liberdade de expressão e ação política podem ter um preço alto quando desagradam àqueles que deveriam zelar por elas.
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*Com informações Metrópoles