A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o transporte coletivo de Campo Grande lançou um holofote sobre a precária situação da frota de ônibus da capital. Em sua mais recente rodada de oitivas, o diretor de Operações do Consórcio Guaicurus, Paulo Vitor Brito de Oliveira, confirmou que quase uma centena de veículos circula irregularmente, desrespeitando o limite de idade estabelecido em contrato com a prefeitura.
Segundo Oliveira, 97 ônibus da concessionária, o que representa 21% de sua frota total, já ultrapassaram a marca dos 10 anos de uso. Pelo acordo de concessão, veículos convencionais não deveriam circular após essa idade, e a média da frota deveria ser de cinco anos, mas atualmente está em oito.
Questionado pelos vereadores sobre o motivo da manutenção de tantos ônibus velhos, o diretor foi direto: o Consórcio Guaicurus não tem condições financeiras para renovar a frota.
O problema da idade dos veículos não é novidade. No mês passado, a Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg) já havia exigido a retirada de circulação de 98 ônibus do Consórcio por estarem no limite da vida útil, concedendo 30 dias para a substituição e aplicando uma multa diária. Contudo, Oliveira indicou que a empresa deve recorrer, alegando a inviabilidade de cumprir o prazo para a aquisição de novos veículos com as especificações contratuais.
Em depoimentos anteriores à CPI, a própria Agereg havia divulgado que 65% da frota da Capital estaria com mais de oito anos de uso, indicando inicialmente 300 ônibus irregulares, número posteriormente corrigido para 197. Oliveira, por sua vez, sugeriu que essa divergência nos dados pode estar ligada a diferentes metodologias de cálculo, como a idade média da frota.
O ponto central da defesa do Consórcio Guaicurus para a situação da frota e a precarização do serviço recai sobre o desequilíbrio financeiro do contrato de concessão, assinado em 2012. Oliveira alegou que a falta da revisão contratual, que deveria ter ocorrido no sétimo ano de vigência, é a principal causa dos problemas.
"A causa hoje do desequilíbrio financeiro é a falta do estudo do sétimo ano, [além de] todos os marcos contratuais que não foram cumpridos pelo Poder Executivo, que são a construção dos terminais e dos corredores de ônibus", enfatizou.
Embora reconheça que ônibus mais antigos geram custos de manutenção elevados, o diretor argumentou que o maior vilão do orçamento do consórcio é o preço do óleo diesel, que está em patamares recordes em comparação com a gasolina, impactando diretamente o cálculo tarifário.
Ele defendeu que uma revisão contratual abrangente é crucial para reequilibrar as contas, citando mudanças significativas no cenário da mobilidade urbana, como a ascensão dos aplicativos de transporte, que não existiam na época da assinatura do contrato.
A CPI, que já soma mais de 600 denúncias da população sobre o transporte coletivo, continua a aprofundar a investigação sobre as responsabilidades e os caminhos para melhorar a qualidade do serviço na Capital.
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*Com informações Correio do Estado