Uma sequência de denúncias inquietantes sobre o transporte público de Campo Grande veio à tona durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal. Relatos apresentados por ex-motoristas e funcionários evidenciam um cenário alarmante de precariedade e abuso no Consórcio Guaicurus, que gerencia a frota da cidade.
Definindo os ônibus como "sucatas", o ex-motorista Weslei Conrado Moreli, que atuou no consórcio entre 2019 e 2024, revelou que frequentemente conduzia veículos com falhas graves, como freios inoperantes e painéis de velocidade quebrados. Ele ainda relatou situações em que motoristas eram orientados a lotar os ônibus até o limite, comprometendo a segurança dos passageiros.
"Os ônibus pareciam verdadeiras latas de sardinha. A empresa não respeita o povo, entregando um serviço indigno", desabafou.
Elevadores quebrados destinados a cadeirantes também foram mencionados. Moreli afirmou ter enfrentado situações constrangedoras ao precisar informar passageiros com deficiência que o equipamento não funcionava, forçando-os a esperar outro veículo.
Além da precariedade dos veículos, Moreli destacou a sobrecarga de trabalho como um fator crítico. Segundo ele, jornadas de até 11 horas diárias eram comuns, com intervalos reduzidos a minutos em terminais. Ele afirmou que essas condições o levaram a problemas de saúde, o que contribuiu para sua decisão de deixar a empresa.
Relatos semelhantes foram apresentados por Gabriel da Silva Souza Almeida, ex-funcionário da bilhetagem. Ele descreveu um ambiente de trabalho degradante, com infiltrações, cadeiras inadequadas e sistemas de bilhetagem frequentemente inoperantes.
Gabriel ainda acusou o Consórcio Guaicurus de praticar assédio moral organizacional, uma estratégia para forçar pedidos de demissão voluntária por meio de pressões psicológicas e condições de trabalho insustentáveis.
"Além de prestar um serviço de péssima qualidade, o consórcio fragiliza os direitos dos trabalhadores e explora ao máximo os seus empregados, afetando diretamente a qualidade do transporte oferecido à população", destacou.
Os vereadores da CPI informaram que os depoimentos serão encaminhados ao Ministério Público do Trabalho (MPT-MS), buscando uma investigação rigorosa sobre as práticas do consórcio. As denúncias, segundo eles, reforçam a necessidade urgente de reformas estruturais no transporte público de Campo Grande.
As revelações levantam uma questão essencial: até que ponto as práticas empresariais inadequadas estão comprometendo o bem-estar dos trabalhadores e o direito da população a um transporte seguro e digno?
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*Com informações Correio do Estado