A realidade financeira de milhões de brasileiros revela um quadro preocupante: mais de um terço dos inadimplentes que vivem nas capitais do país (35%) não fazem nenhum tipo de controle sobre o que ganham e gastam. A constatação vem de uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), que mostra ainda outro dado alarmante: dentro desse grupo, 17% afirmam “controlar de cabeça”, ou seja, confiam apenas na memória — uma estratégia considerada frágil e arriscada por especialistas.
Os motivos para essa falta de controle são variados. Cerca de 16% dizem já ter tentado acompanhar seus gastos, mas abandonaram a prática por não enxergar resultados. Outros 15% citam a falta de disciplina como o principal obstáculo. Já 14% alegam que a renda instável ou o desconhecimento do valor exato que recebem impede qualquer planejamento eficaz.
Para o presidente da CNDL, José César da Costa, o quadro é grave: “Não importa se é no papel, no aplicativo ou na planilha. O importante é não abrir mão do controle. A memória falha, o papel não”, alerta.
77,8 milhões de brasileiros inadimplentes
O número de inadimplentes no Brasil já alcança 77,8 milhões de pessoas, segundo o Serasa, com um total de R$ 477 bilhões em dívidas. Em média, cada inadimplente deve R$ 6.128,26, distribuídos em cerca de 1,6 dívida por pessoa, no valor médio de R$ 1.567,05.
Onde a inadimplência pesa mais
O peso das dívidas é desigual no território nacional. O Amapá lidera o ranking de inadimplência com 63,49% da população adulta endividada, seguido pelo Distrito Federal (61,01%) e pelo Rio de Janeiro (57,19%). O Mato Grosso do Sul, com 55,63%, aparece entre os cinco estados com maiores índices.
Controle financeiro ainda é exceção, não regra
Mesmo com a crise financeira que afeta milhões, apenas 63% dos consumidores afirmam manter algum tipo de controle do orçamento doméstico. As ferramentas mais usadas ainda são analógicas: 27% usam cadernos de anotação e 23% recorrem a planilhas digitais.
A maioria foca nos gastos essenciais como alimentação, contas de luz e água, aluguel e mensalidades (85%). No entanto, apenas 70% monitoram gastos considerados supérfluos — como idas ao salão, lanches, transporte por aplicativo e compras por impulso — que muitas vezes são os vilões do orçamento.
Saber não é o mesmo que fazer
Mesmo diante do endividamento, muitos ainda avaliam sua capacidade financeira de forma positiva: 41% consideram ter bom ou ótimo conhecimento sobre finanças, e 39% se veem como razoáveis. Apenas 18% admitem pouco ou nenhum conhecimento.
Na prática, o cenário é diferente. Cerca de 28% reconhecem que frequentemente gastam mais do que deveriam e 35% afirmam que só vão organizar as finanças quando tiverem mais dinheiro — uma atitude que posterga a solução e agrava o problema.
Inadimplência reincidente
Para 48% dos entrevistados, estar inadimplente foi uma experiência pontual. Mas outros 43% relatam que a situação se repetiu ou se tornou recorrente. Segundo a CNDL, a combinação de instabilidade de renda, desmotivação, falta de disciplina e ausência de planejamento contribui para um ciclo difícil de romper.
“Em muitos casos, a inadimplência não é apenas um acidente financeiro, mas o reflexo de uma estrutura de vida desorganizada, onde o improviso domina a gestão do dinheiro. Sair do vermelho exige mais do que vontade: exige hábito e constância”, afirma José César da Costa.
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*Com informações R7