Segunda, 10 de Novembro de 2025

Formação ‘vira a chave’ em aldeia e indígenas de MS lucram mais de 2 mil reais em uma semana de trabalho

Nem o frio e nem a chuva que mudaram o tempo repentinamente conseguiu desanimar quem estava decidido a encarar o desafio do Empretec Indígena, na a...

10/11/2025 às 06h31
Por: WK Notícias Fonte: Secom Mato Grosso do Sul
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Foto: Reprodução/Secom Mato Grosso do Sul
Foto: Reprodução/Secom Mato Grosso do Sul

Nem o frio e nem a chuva que mudaram o tempo repentinamente conseguiu desanimar quem estava decidido a encarar o desafio do Empretec Indígena, na aldeia Marangatu, em Antônio João (MS). O seminário realizado pelo Governo de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Estado da Cidadania, em parceria com o Sebrae e apoio da Prefeitura de Antônio João, terminou no último sábado (1º), com histórias que mostram como o conhecimento pode transformar vidas e gerar renda.

Uma das participantes que mais se destacou foi a professora de Química, Jéssica Barbosa de Carvalho, de 32 anos. No início, ela nem pensava em fazer o curso. “Eu falei pro professor: ‘pra que eu vou fazer se não tenho nada pra vender’?”, relembra. Desafiada pelos colegas, acabou aceitando o convite, e saiu do Empretec com uma nova visão.

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>"Estação do Sabor" foi a empresa vencedora que conseguiu arrecadar mais de R$ 2 mil em uma semana de trabalho.
>Jéssica nem pensava em fazer o Empretec, mas topou ao ser desafiada e relata o quão significativo foi participar do seminário. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)
>Jéssica nem pensava em fazer o Empretec, mas topou ao ser desafiada e relata o quão significativo foi participar do seminário. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

“Eu entendi que empreender é muito mais do que vender alguma coisa. É sobre atitude, persistência, comprometimento. Aprendi que o medo é o que mais impede a gente de tentar”, contou.

Durante a formação, Jéssica integrou o grupo responsável pela “Estação do Sorvete”, uma empresa criada dentro do seminário para simular um negócio real. A ideia inicial era abrir uma sorveteria, mas o frio e a chuva dos primeiros dias mudaram os planos. “A gente pensou: se o tempo muda, o cardápio também pode mudar. Então criamos a Estação do Sabor, pra vender de tudo um pouco: doce, caldo, pocheirada”, explicou.

De casa em casa, o grupo enfrentou o barro, a chuva e o cansaço para oferecer seus produtos na comunidade. O resultado surpreendeu até as próprias empreendedoras.

“A gente começou entregando embaixo de chuva, e mesmo assim deu certo. Em cinco dias, faturamos R$ 2.408, quase metade do salário que eu ganho como professora. Isso mostrou que é possível, que a gente tem cabeça e capacidade pra fazer acontecer”, comemorou Jéssica.

E para quem nunca havia batido de porta em porta e achava que poderia ser até humilhante tentar vender alguma coisa, o exercício foi transformador. “Percebi que eu consigo convencer as pessoas, consigo fazer acontecer. Agora quero continuar com o projeto”, disse.

>No encerramento, analista que conduziu a formação fala que a partir daquele momento, novas ideias florescem. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)
>No encerramento, analista que conduziu a formação fala que a partir daquele momento, novas ideias florescem. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

Empretec Indígena

Criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e aplicado no Brasil pelo Sebrae, o Empretec é uma metodologia que desenvolve o comportamento empreendedor. 

Desde 2024, o Governo do Estado passou a realizar a versão “Indígena”. Inédito no País, o primeiro foi realizado em abril do ano passado, com os Ofaié, no município de Brasilândia.

Durante seis dias intensos, os participantes vivenciam desafios práticos e reflexões que estimulam a autoconfiança, a capacidade de planejamento e a busca por resultados. Voltado a despertar o potencial e transformar atitudes, o Empretec propõe uma verdadeira imersão para quem deseja empreender com propósito e protagonismo.

No encerramento do seminário realizado na Marangatu, em Antônio João, o analista do Sebrae e facilitador Empretec, Francisco Júnior, falou sobre o significado simbólico da formação e a importância de os participantes reconhecerem sua própria força.

“Vamos dizer que este é o encerramento de uma maneira de viver que vocês estavam levando até agora — e o início de algo novo, de um tempo em que vocês vão poder dizer: valeu a pena mudar, essa experiência chegou na hora certa. E o mais importante é lembrar que as únicas pessoas que podem dizer se vocês podem ou não fazer algo, são vocês mesmos. Todos os dias, olhem para si e digam: eu consegui chegar até aqui, imagina o que posso alcançar daqui pra frente”, provocou Francisco.

Na semana que passaram juntos, imersos no aprendizado do empreendedorismo, o grupo de 27 indígenas venceram desafios, e nas palavras do analista, superaram a si mesmos. “Mesmo com chuva, barro e cansaço, vocês persistiram. Isso é força, é resiliência, é acreditar. A partir de agora, a vida e a condução são de vocês. Perguntem-se sempre: o que posso fazer melhor do que ontem? O que posso fazer para que minha comunidade cresça comigo?”, completou. 

>Vereadora de Antônio João e liderança da comunidade, Inaye também fez o Empretec, e recebeu o certificado das mãos do subsecretário Fernando Souza. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)
>Vereadora de Antônio João e liderança da comunidade, Inaye também fez o Empretec, e recebeu o certificado das mãos do subsecretário Fernando Souza. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

O subsecretário de Políticas Públicas para Povos Originários, Fernando Souza, destacou a emoção de ver o brilho nos olhos dos participantes e a importância de levar o programa para dentro das aldeias:

“Eu estou muito feliz por vocês. Quando estive aqui no primeiro dia, vi nos rostos uma certa dúvida sobre o que seria o Empretec. Hoje, apesar do cansaço, vejo um brilho nos olhos, e isso nos alegra muito”, afirma.

Em nome do Governo do Estado, Fernando contextualizou como foi o processo de trazer o Empretec para dentro do território indígena. “Vencemos muitas barreiras, porque acreditamos no potencial e na força de trabalho de vocês. Enfrentamos resistências, ouvimos questionamentos, como por exemplo: ‘por que levar o Empretec para uma comunidade indígena?’, mas seguimos firmes, porque sabemos que temos capacidade de crescer. Eu sou prova disso. A gente pode evoluir, melhorar de vida, sem deixar de ser quem somos: Guarani, Kaiowá, Terena, Ofaié. O que queremos é ver o nosso povo crescendo, se fortalecendo e construindo um futuro melhor.”

A vereadora do município de Antônio João, liderança da Terra Indígena Marangatu e também participante do Empretec, Inaye Lopes reforçou que o seminário é a realização de um sonho antigo. 

“Esse curso era um sonho nosso desde o início. A comunidade precisava de uma formação que mostrasse como usar o território de forma produtiva e sustentável. Agradeço aos participantes que acreditaram e se inscreveram, mesmo com as dificuldades. Tivemos jovens, acadêmicos e até o seu Carlos, com 78 anos, que nos dá um exemplo lindo de que nada é impossível quando a gente quer. Que venham mais cursos como este para fortalecer nossa juventude e o nosso território.”

>Pai e filha, Adão e Karine já vão colocar em prática a doceria pensada durante o seminário. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)
>Pai e filha, Adão e Karine já vão colocar em prática a doceria pensada durante o seminário. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

Entre os participantes, um exemplo de união familiar chamou atenção. Pai e filha decidiram transformar o aprendizado em negócio real. Durante o curso, Adão Benites, que é diretor da escola onde o seminário aconteceu, e a herdeira Karine Benites, criaram uma empresa fictícia que já é uma realidade. 

“A ideia é vender doces, carne assada, frango caipira e caldos, produtos que já fazíamos antes. Agora, com o que aprendemos, ganhamos confiança para abrir de verdade a Soberana S.A., junto com minha esposa Cleusa e meu genro Adelso”, conta o morador da localidade Soberana, uma das 12 divisões da Aldeia Marangatu. 

O nome da empresa vem do próprio lugar onde vivem, Soberana, e simboliza o orgulho de empreender com raízes fincadas na terra indígena que os viu crescer.

Realizado pelo Governo de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Estado da Cidadania, em parceria com o Sebrae/MS e com apoio das prefeituras municipais, o Empretec Indígena faz parte de uma agenda que valoriza o empreendedorismo como ferramenta de autonomia e transformação social. Novas edições já estão confirmadas em outros territórios indígenas e, de forma inédita no Estado, será realizado também o primeiro Empretec Quilombola, em Nioaque, ampliando o alcance da formação e reafirmando o compromisso com o fortalecimento das comunidades tradicionais.

>No encerramento, todos os alunos com o certificado de conclusão do Empretec. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)
>No encerramento, todos os alunos com o certificado de conclusão do Empretec. (Foto: Paula Maciulevicius/SEC)

Paula Maciulevicius, Comunicação da Cidadania

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