
Racismo, sexismo e desigualdade social. A opressão que atinge mulheres pretas e pardas brasileiras, também é realidade que violenta aquelas de países latinos e caribenhos.
Por isso, centenas de mulheres afro latino-americanas, afro-caribenhas e da diáspora se juntaram a cerca de 500 mil participantes da 2ª Marcha das Mulheres Negras de 2025, que tomou a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Uma delas é Juana Lopez, defensora dos Direitos Humanos e do combate à discriminação racial no Panamá. Juana vê a manifestação em Brasília como uma grande marcha global.
“Todos os países do mundo devem lutar pelas reivindicações das mulheres negras, por nossos direitos. Devem exigir respeito dos governos dos Estados. Por isso, viemos com tudo para essa marcha.”
Vinda da Cidade de Panamá, Juana lamenta que seu país não seja uma exceção nas discriminações praticadas contra as afrodescendentes e as mulheres não negras.
Colômbia, nação com uma das maiores populações negras da América Latina, é o país da cantora e compositora Alba Nelly Mina. A afro-colombiana encara a marcha como um instrumento poderoso que as mulheres negras têm para mudar o mundo. “Todas temos o direito ao bem-viver e de estar aqui estamos para apoiá-los porque a luta das mulheres é de todas e importa a todos.”
A compatriota dela é María Elvira Solís Segura, atriz, escritora e cantora oriunda de Tumaco, do departamento de Nariño, localizado na costa do Pacífico. Seu ativismo político é dedicado ao apoio aos antepassados e à sabedoria comunitária. “Lutamos por dignidade, por viver bem, por liberdade também.”
Diferentemente do Brasil, onde as pessoas autodeclaradas negras somam cerca de 56% da população, no Uruguai, apenas 10% das pessoas se identificam como afrodescendentes. E justamente representando este contingente do país platino que veio para a marcha a jovem Giovana León, da cidade uruguaia de Canelones.
Giovana relata diferentes violências que as mulheres negras sofrem todos os dias. “A violência principal que vivemos é a racial, que sofrem as crianças e adolescentes e seguem adiante sofrendo em todos os momentos e em todos os lugares onde estamos habitando.”
Para ela, a marcha é necessária. “Porque todas as mulheres têm que ser visibilizadas neste dia e temos o direito de viver uma vida sem violência.”
De Havana, capital cubana, Maydi Estrada Bayona, professora da Faculdade de Filosofia e História da Universidade de Havana, visita o Brasil pela primeira vez. Mas vem de longe a discussão dela acerca de temas relacionados à discriminação e violência contra pessoas negras. A professora destaca que a marcha é um acontecimento histórico que faz justiça reparativa às memórias dos ancestrais que lutaram pela reivindicação do direito ao tecido da vida, pelo direito de amar, de sonhar, às terras, aos próprios corpos e ao conhecimento.
E hoje, nossas novas gerações são donas destes corpos que estão gritando, porque esses problemas continuam, são cíclicos. Então, este é um ato de liberdade, é um ato de justiça reparativa.”
No Peru, conhecido pela presença dos povos originários, também há registro de escravidão negra no período colonial espanhol. A peruana Ernestina Uchoa é descendente de africanos escravizados e direto do distrito de El Carmen, em Chincha (Peru), se juntou a outras integrantes da Rede de Mulheres Afro Latino-americanas, Afro-caribenhas e da Diáspora (RMAAD), uma organização transnacional de combate ao racismo e à desigualdade de gênero através da articulação de políticas e do fortalecimento das lutas das mulheres negras em toda a região.
Ernestina Uchoa está na capital do Brasil para dizer que é necessário lutar pela igualdade e o respeito às mulheres negras.
“Porque as mulheres merecem respeito, igual a qualquer outra mulher. Por isso estou aqui, unida a todas as minhas irmãs.”
O ativismo das mulheres negras está presente também em Honduras. Quem viajou milhares de quilômetros e agora engrossa o coro das vozes latino-americanas e caribenhas é a hondurenha Jimena Calderon.
“Estamos todas unidas para tecer juntas um melhor caminho decolonial e antipatriarcal. Vamos juntas dizer que esta marcha vale a pena e transformará nossas vidas.”
Realizada pela segunda vez, após dez anos, a Marcha das Mulheres Negras – 2025, para essas mulheres, não se encerra neste 25 de novembro. À reportagem da Agência Brasil, muitas mulheres relataram que voltam a seus territórios estimuladas a lutar por acesso à saúde, educação de qualidade, emprego e renda, visibilidade em censos e estatísticas, e pelo fim da violência contra mulheres negras.
Nesta quarta-feira (26), todas as mulheres participantes da mobilização ainda podem participar das atividades da Semana por Reparação e Bem-Viver .