
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que é importante que os diretores da autoridade monetária, incluindo ele próprio, cumpram seus mandatos até o final e que isso fortalece a recém-conquistada autonomia do órgão, e que a autonomia será "testada" pela primeira vez em troca de governo, durante evento da Black Rock Brasil,
"É muito importante que os dirigentes entendam que eles têm um mandato, têm que cumprir o mandato para exercer essa autonomia e, no caso, isso se estende a mim também. É importante que eu fique esses dois anos e que eu mostre que todo o esforço que foi feito a esse movimento de ganho institucional sirva para momentos de transição de governo", afirmou.
É preciso ver o que será definido em termos de arcabouço fiscal do novo governo para avaliar o impacto na trajetória da dívida - "conectado à função-reação do BC" em termos de decisões de juros.
Nas últimas semanas, a curva futuro de juros tem precificado novas altas da taxa Selic devido a um temor de irresponsabilidade fiscal do governo eleito.
"Precisamos ver o que sairá de redesenho da âncora fiscal. Redesenho de gastos com eliminação de subsídios é difícil, mas precisa ser feito. Taxa longa está super sensível a trajetória da dívida. Brasil precisa mostrar equilíbrio nas contas olhando para frente.".
A incerteza fiscal passou a fazer um peso mais importante do que à relacionada diretamente à inflação, que tem feito uma inflexão, e ao crescimento da economia.
Na sua avaliação, é mais difícil coordenar a política fiscal e monetária em momentos de contração, porque a velocidade da política monetária é mais rápida e focada e, no fiscal, há desejo de continuar políticas assistencialistas devido às sequelas sociais da pandemia de covid-19.
Ajuste nos EUA
Campos Neto disse que a velocidade do ajuste monetário nos Estados Unidos deve ser reduzida, mas ainda com "mensagem bastante dura" em relação à inflação. A taxa projetada final naquele país não deve ir "muito além" dos 5,17% esperados.
Ele ressaltou que o processo de desinflação não é linear e que o patamar mais elevado persiste antes de voltar para a meta. "Quanto mais coordenado o monetário com o fiscal, mais fácil esse trabalho", concluiu.