
O relatório da PF (Polícia Federal) sobre o caso Marielle expõe fragmentos dos depoimentos do miliciano Orlando Curicica, nos quais é mencionada uma prática recorrente de pagamento de propinas à Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, visando obstruir investigações de homicídios. O montante das propinas teria alcançado a cifra de R$ 300 mil.
De acordo com a Polícia Federal, um dos detidos sob suspeita de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes é o delegado Rivaldo Barbosa, que teria administrado um esquema criminoso durante sua gestão na Delegacia de Homicídios.
Curicica relatou que essa delegacia recebia regularmente entre R$ 60 mil e R$ 80 mil por mês, além de remessas adicionais, com o propósito de evitar investigações sobre execuções ligadas às milícias no Rio de Janeiro.
Em uma situação específica, um indivíduo ligado ao bicheiro Rogério de Andrade teria realizado um pagamento de R$ 300 mil à Delegacia de Homicídios, com a finalidade de evitar investigações sobre a morte do sargento da reserva Geraldo Antônio Pereira, ocorrida em um estacionamento de academia no Recreio, em maio de 2016.
Curicica também menciona outros casos de assassinatos que supostamente não foram investigados devido ao pagamento de propinas à polícia: o assassinato do presidente da Portela, Marcos Falcon, ocorrido em setembro de 2016, na Madureira, zona oeste do Rio, por dois homens encapuzados; e o do contraventor Heylton Carlos Gomes Escafura e de sua esposa, encontrados mortos no Hotel Transamérica, na Barra da Tijuca, em junho de 2016.
Além do delegado Rivaldo, foram detidos no domingo (24/3), sob suspeita de serem mandantes do assassinato de Marielle, o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) e seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio.
Orlando Curicica chega a detalhar um incidente de extorsão que ele e sua esposa enfrentaram durante o período em que Rivaldo atuava como chefe da Delegacia de Homicídios.
“Foi um inquérito que eu fui extorquido pelo próprio doutor Rivaldo, que era o chefe de polícia”, diz Curicica em trecho do depoimento, citado no relatório da PF sobre o caso Marielle.
Nesse incidente específico, ele e sua esposa teriam cedido a quantia de R$ 20 mil a um subordinado do delegado Rivaldo.
