Terça, 01 de Julho de 2025

Depoimentos desconstroem tese de golpe de Moraes e expõem fragilidades do caso

Testemunhas reforçam lacunas nas acusações contra Bolsonaro e aliados no STF

03/06/2025 às 11h46
Por: Tatiana Lemes
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nas últimas semanas, o caso sobre a suposta tentativa de golpe de Estado em 2022 perdeu força diante de uma série de depoimentos no Supremo Tribunal Federal (STF). O encerramento das oitivas de testemunhas nesta segunda-feira (2) trouxe um cenário desfavorável para a tese sustentada pelo ministro Alexandre de Moraes e pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A narrativa, que embasou as acusações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus do núcleo principal da trama golpista, foi desafiada por uma sucessão de negativas e contradições.

De senadores a comandantes das Forças Armadas, as 52 testemunhas ouvidas nos últimos meses ofereceram relatos que, em sua maioria, enfraquecem a ligação direta dos réus com qualquer plano de ruptura institucional. A postura de Moraes ao acelerar os próximos passos do processo, marcando para o dia 9 de outubro os depoimentos dos acusados, reflete o crescente desafio de sustentar as acusações.

Testemunhos que contradizem a narrativa

O senador Rogério Marinho, última testemunha ouvida, desmentiu qualquer intenção de Bolsonaro ou Braga Netto de interferir no resultado eleitoral. Marinho destacou que o ex-presidente estava "triste e preocupado com a transição de governo", mas longe de qualquer articulação golpista. Relatos semelhantes vieram do general Marco Antônio Freire Gomes, que descartou apoio das Forças Armadas a planos inconstitucionais.

Por outro lado, depoimentos como o do brigadeiro Carlos Baptista Júnior, mais alinhado com a tese da PGR, sugerem intenções implícitas de impedir a posse de Lula. No entanto, mesmo esse relato carece de evidências concretas, com o brigadeiro admitindo não ter lido a chamada “minuta golpista” e baseando sua percepção em suposições.

Lacunas na acusação

O processo enfrenta críticas por falta de elementos executórios que configurem crimes como golpe de Estado ou abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A mera discussão de medidas, ainda que controversas, não basta juridicamente. Depoimentos apontam que a minuta encontrada em 2023, nunca assinada, não gerou mobilizações ou ordens concretas.

Além disso, figuras-chave como o governador Tarcísio de Freitas e o ex-advogado-geral da União Bruno Bianco reafirmaram que Bolsonaro não incentivou ações de ruptura. Para Bianco, o ex-presidente aceitou prontamente que as eleições ocorreram de forma legal, encerrando qualquer especulação.

Próximos capítulos

Com os depoimentos das testemunhas encerrados, os réus terão sua vez na próxima semana. Enquanto Moraes mantém a celeridade no caso, as defesas tentam reunir elementos que reforcem as fragilidades na narrativa apresentada até o momento.

Apesar da pressão sobre os réus e da gravidade das acusações – que incluem penas superiores a 30 anos de prisão – os depoimentos trouxeram mais perguntas do que respostas. O julgamento final, previsto ainda para este ano, poderá definir não apenas o futuro dos acusados, mas também a credibilidade das instituições no manejo de processos de tamanha relevância política.

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