Depois de décadas enfrentando algumas das facções criminosas mais perigosas do país, o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira vive hoje como um prisioneiro em sua própria casa, sem proteção do Estado e sob risco constante de atentados. A ironia é dura: um homem que condenou mais de 100 traficantes internacionais, apreendeu aviões, veículos de luxo e centenas de imóveis ligados ao crime e colocou atrás das grades líderes do Comando Vermelho e do PCC, agora depende da própria sorte para sair do lar.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu em 2018 retirar a escolta que Odilon recebia da Polícia Federal, alegando que ele havia se aposentado e disputado o governo de Mato Grosso do Sul. Desde então, o ex-juiz enfrenta uma batalha judicial para recuperar proteção mínima, sem sucesso. “Renunciei à minha liberdade para proteger a sociedade e, agora, o Estado me abandona. Isso é desonestidade com quem arriscou a vida pelo país”, denuncia.
Odilon sobrevive com medidas improvisadas: casa transformada em fortaleza, cercas elétricas, câmeras, alarmes, amigos policiais que eventualmente ajudam e escolta privada que ele não pode bancar. Mesmo assim, ele afirma que não consegue viver tranquilo nem por um minuto.
Durante sua carreira, Odilon foi alvo de quatro atentados confirmados e centenas de ameaças concretas, incluindo metralhamentos de carros, tiros em sua casa e invasões de residências. “Passei 20 anos sob escolta cerrada e agora, sem nenhuma proteção, vivo como um prisioneiro. É um absurdo total”, afirma.
O ex-juiz relata que a retirada da proteção oficial representa um desestímulo para qualquer servidor público que lide com alto risco, mostrando que no Brasil quem combate o crime organizado é muitas vezes deixado à própria sorte.
Apesar de ter sua história retratada em filmes e documentários — como o longa “Em nome da lei” (2016) e o documentário “Odilon – Réu de Si Mesmo” (2020, HBO Max) —, Odilon afirma que o reconhecimento artístico e midiático não se traduz em segurança ou respeito do Estado.
“Não quero luxo, não quero privilégios, quero apenas sair de casa algumas horas por semana sem medo de ser assassinado. O Brasil se esqueceu de mim depois que eu mais precisei, conclui o magistrado aposentado, que já recorreu ao CNJ e à Justiça Federal para restaurar sua proteção, sem qualquer resposta.
O caso do juiz Odilon levanta uma questão crítica: enquanto o país protege criminosos e facções perigosas, os heróis que enfrentam o crime organizado ficam vulneráveis e esquecidos, transformando décadas de serviço e sacrifício em abandono institucional.
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*Com informações Gazeta do Povo