
Prisões desta semana mostram que a pressão da CPMI começa a surtir efeito, mas a ponta do iceberg ainda está longe de ser alcançada. Centenas de nomes seguem fora das investigações, enquanto decisões cruciais continuam engavetadas em meio à morosidade das instituições.
A megaoperação deflagrada nesta quarta-feira (13) pela Polícia Federal, com mais de 60 mandados de busca e apreensão e dez de prisão preventiva em 15 estados e no Distrito Federal, expôs uma das maiores redes de corrupção já identificadas no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Entre os alvos, estão ex-gestores e servidores acusados de fraudar benefícios e manipular cadastros para desviar milhões dos cofres públicos.
Apesar da envergadura da ação — batizada de Sem Desconto —, o episódio também acende o alerta para a morosidade com que a PF e o Judiciário têm respondido às demandas da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os escândalos no órgão. Desde a sua instalação, a CPMI tem reunido vasto material probatório, nomes, documentos e pedidos formais de quebra de sigilos bancários e telefônicos, mas parte expressiva dessas solicitações segue sem retorno efetivo das autoridades competentes.
Fontes ligadas à comissão destacam que a operação de hoje só ganhou fôlego após intensa pressão dos parlamentares, que cobraram ação imediata diante do volume de provas já encaminhadas à Polícia Federal. “A CPMI foi o ponto de virada. Sem o trabalho do colegiado, dificilmente veríamos as prisões acontecendo agora”, afirmou um dos integrantes do grupo de investigação.
No entanto, o sentimento predominante entre os membros da CPMI é de incompletude. Há uma lista extensa de pessoas, empresas e consultorias suspeitas que ainda não foram alvo de medidas judiciais. O temor é de que a falta de celeridade das instituições enfraqueça o efeito do trabalho parlamentar e permita que provas se percam ou sejam manipuladas.
Enquanto isso, cresce na opinião pública a sensação de que a CPMI cumpre um papel de fiscalizador ativo, enquanto os órgãos de investigação caminham a passos lentos. A expectativa é de que, com o avanço das prisões, novas fases da operação sejam deflagradas e alcancem figuras que ainda estão sob o manto da impunidade.
No Congresso, já há quem defenda uma nova convocação de autoridades para esclarecer por que pedidos de prisão e de quebra de sigilo feitos há meses ainda não tiveram resposta.
A operação de hoje, embora histórica, é apenas o início de uma faxina que promete expor o maior escândalo administrativo da história recente da Previdência Social.