Quarta, 19 de Novembro de 2025

PL Antifacção: proibição do voto de presos vira estopim de crise entre Câmara e governo, e PT fala em “golpe eleitoral”

A votação dos destaques do PL Antifacção abriu uma nova frente de conflito no Congresso. A derrubada do voto de presos, que vinha sendo silenciosamente defendida pela base governista, irritou o Planalto e expôs o desgaste da esquerda, que agora tenta reorganizar a narrativa enquanto corre para evitar nova derrota no Senado.

19/11/2025 às 08h38 Atualizada em 19/11/2025 às 09h06
Por: WK Notícias
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Foto: Reprodução
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A noite de terça-feira, em Brasília, terminou com um clima raro no plenário: nem técnicos da Câmara, nem líderes partidários, nem mesmo ministros palacianos escondiam o incômodo. Tudo por causa de um destaque aparentemente simples — mas que mexeu com um dos nervos mais sensíveis do governo: o voto de presos.

O texto aprovado determina que qualquer pessoa privada de liberdade — até mesmo as que aguardam julgamento — perde automaticamente o direito de votar. Sim, provisórios também. O impacto político foi imediato. O governo percebeu tarde demais

Segundo três parlamentares da própria base, o governo demorou a reagir porque acreditava que o destaque não tinha votos suficientes. Só percebeu a movimentação quando deputados do centrão começaram a circular discretamente entre bancadas, avisando: “Hoje passa”. Passou. E passou com folga. “É um absurdo, isso muda o caráter do projeto”, disparou Lindbergh Farias, visivelmente irritado no salão verde. O petista passou metade da tarde tentando convencer líderes aliados a empurrar a votação para a próxima semana. Não conseguiu. Nem perto disso.

A esquerda sentiu o golpe — e não disfarçou

Pouco depois da votação, uma conversa tensa reuniu deputados do PT, PCdoB e PSOL. O tom era de derrota. Não apenas legislativa. Eleitoral. “Eles sabem exatamente o que fizeram”, disse uma deputada governista, em voz baixa, referindo-se à oposição. A frase traduzia um sentimento geral: a retirada do voto de presos atinge diretamente um público historicamente mobilizado por partidos de esquerda.

Do lado do PCdoB, o clima era ainda mais pesado. Jandira Feghali repetia para assessores que o texto aprovado “não ataca facções”, apenas “dá munição política para quem usa segurança pública como palanque”. O incômodo era real.

Derrite virou alvo

O relator, Guilherme Derrite, deixou o plenário cercado. Não pela imprensa — pela própria base governista, que queria explicações. Para o PT, Derrite “esticou a corda” além do que era esperado. O governo já dava como certa alguma derrota, mas não essa.

A irritação foi tamanha que, antes mesmo de o relógio marcar 22h, petistas já falavam abertamente em trabalhar pela mudança do texto no Senado. Nada discreto.

No Planalto, a leitura foi direta: “foi um recado”

Ao final da noite, assessores palacianos admitiam, em privado, que o governo “tomou um susto”. Um deles resumiu: “Não é só o voto de presos. É o recado político. O centrão mostrou que, quando quer, atropela.”

O Planalto agora espera que o Senado absorva parte do impacto. A estratégia é tentar reconstruir trechos que foram alterados na Câmara — começando exatamente pela proibição do voto dos presos.

O Senado vira o campo de batalha

Se na Câmara o governo perdeu o controle, no Senado aposta em algo diferente. Ali, líderes próximos ao Planalto já começaram a conversar, ainda na madrugada, sobre a possibilidade de derrubar a emenda.

Um senador governista disse, sem rodeios: “Isso não passa por aqui desse jeito. O governo vai trabalhar pesado.”A disputa promete ser intensa. E rápida.

Conclusão: a noite que incendiou Brasília

O destaque dos presos não foi apenas um adendo ao PL Antifacção. Foi o estopim de uma crise política que expôs a fragilidade do governo na Câmara, elevou a tensão com o centrão e reacendeu debates sensíveis sobre direitos políticos. E deixou um recado claro: o PL Antifacção ainda está longe de terminar.

O fogo agora está no Senado. E, pelo visto, não vai apagar tão cedo.

 

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