A brutal morte da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, nas mãos de seu ex-noivo Caio Nascimento, de 47 anos, não apenas choca a sociedade, mas também expõe falhas profundas no atendimento às mulheres vítimas de violência em Mato Grosso do Sul. Áudios gravados pela vítima antes de ser assassinada desmentem declarações das delegadas da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) e apontam erros inadmissíveis na Casa da Mulher Brasileira, onde Vanessa buscou ajuda horas antes de ser morta.
Em mensagens enviadas a amigas, Vanessa relatou ter sido tratada de forma "fria e seca" por uma delegada ao tentar registrar um boletim de ocorrência e pedir proteção contra o ex-noivo, conhecido por seu histórico de violência doméstica. "Tudo protege o agressor", desabafou ela. Vanessa também mencionou a falta de informações sobre o histórico criminal de Caio, alegando que a delegada se recusou a fornecer detalhes sob o argumento de "sigilo".
A situação foi agravada pela ausência de escolta policial no trajeto de Vanessa até sua casa, mesmo após ela expressar o desejo de "chegar com a polícia" para retirar o agressor. Sem apoio, a jornalista foi esfaqueada por Caio, que já havia sido denunciado por outras mulheres.
Durante coletiva de imprensa, a delegada Eliane Benicasa alegou que a Polícia Civil ofereceu escolta e abrigo à vítima, mas os áudios divulgados nesta sexta-feira (14) contradizem sua versão. As declarações da delegada, que sugerem que Vanessa "não acreditou que corria perigo", foram interpretadas como tentativa de responsabilizar a vítima.
O caso provocou revolta nas redes sociais, gerando intensa comoção e um "alvoroço" que chegou a Brasília. O Ministério das Mulheres emitiu uma nota oficial na madrugada deste sábado (15), destacando que Vanessa não deveria ter retornado para casa sem a escolta da Patrulha Maria da Penha, conforme prevê o protocolo para casos de violência doméstica.
A tragédia também reacendeu críticas à falta de preparo no atendimento às vítimas. Uma ex-delegada ouvida pela reportagem classificou a postura das agentes como "inadmissível", ressaltando que o atendimento inadequado pode levar mulheres a desistirem de buscar ajuda.
O governador de Mato Grosso do Sul e o delegado-geral da Polícia Civil, Lupérsio Degerone Lucio, prometeram "medidas imediatas" para apurar o caso, mas especialistas alertam que denúncias contra a Deam não são novidade.
Enquanto autoridades prometem mudanças, o assassinato de Vanessa entra para as estatísticas do feminicídio e expõe, mais uma vez, o ciclo de negligência e descaso que marca a luta de tantas mulheres pela sobrevivência.
Caio Nascimento, que já está preso, possui histórico de crimes como roubo, ameaça e violência doméstica. Vanessa, por sua vez, era uma jornalista respeitada, formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e assessora de imprensa do Ministério Público do Trabalho.
O feminicídio de Vanessa deixa um alerta contundente: enquanto as políticas de proteção às mulheres continuarem falhas, a violência persistirá.
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*Com informações Midiamax e Correio do Estado